Sexo
Freud estava enganado ao dizer que só os que tinham
vida sexual é que eram saudáveis.Por uma razão simples:não existe sexo
saudável.Sexo é patológico, sujo e esquisito.Mas vital, naturalmente.A
pior tara é a abstinência sexual.As outras são em maior ou menor medida,
lícitas, desde que consentidas entre os praticantes.
Sexo é a esculhambação do amor.Sim, Sexo com amor é ótimo, mas o
verdadeiro amor é casto.Amor mesmo só o platônico.Sexo é a sujeira
natural que surge da pureza e da beatitude amorosa.Sujeira a que
aspiramos vertiginosamente, aliás.Sexo nos remete à nossa condição
animalesca, tanto mais ou menos obscena seja a prática do dito.Aliás, as
pessoas tendem a confundir sexo realizado com amor com sexo mal feito.É
o chamado sexo com diretrizes de castidade.Sexo que não é obsceno é
sexo pobre.Por isto há que se esculhambar o amor com critério e
competência sim senhores.
Mulheres erram em larga escala atribuindo poesia ao sexo.A verdade
poética está na transcendência.Não é a toa que todo poema erótico é
enfadonho.Sexo não ‘’transcende’’, sexo é puramente físico ,material,
humano, demasiadamente humano.E sua virtude reside justamente neste
ponto:sexo é o prazer mais absoluto do plano estritamente terreno,
baixo.
Falei em sexo como uma virtude, quando todos o definem como vício.E é
mesmo.Um vício virtuoso , uma celebração da vida(a maior de todas).Sexo
é a negação prazeirosa da dimensão divina e a afirmação do humano, do
aqui e agora, da eternização do efêmero.Têm razão os religiosos, em
abominar o sexo por tudo isto.A maior traição à Deus foi quando Adão e
Eva O trocaram por uma bela trepada, ou pelo ‘’fruto proibido’’
como preferem os eufemísticos.Trocaram , gostaram e não se
arrependeram.Tiveram que começar a ganhar o pão com o suor do rosto
e a sofrer as intempéries do destino apenas pelo prazer de
fornicar.Sujeitos a sofrerem até depois da morte, a passarem temporadas
no purgatório e no inferno. E ainda assim, não se arrependeram.Em nenhum
momento.
Os padres têm razão mesmo.Sexo não purifica a
alma.Mas convenhamos.Também não suja nada.Esta coisa de celibato
clerical é a maior das perversões.E bem sabemos que suas motivações são
mais de ordem econômica que de salvação de almas.Pior para os noviços ,
coitados, que abrem mão(em tese, rigorosamente em tese, claro)do maior
prazer humano na idade mais plena e vigorosa para a prática da
coisa.Celibato é o maior dos crimes impostos a um ser humano.É o inferno
em vida.Deus nos livre de tamanho castigo.
Sexo não comenta-se.Faz-se.Este meu palavrório
aborrecido e enfadonho é sintoma de falta de sexo.Ao desmentir
Freud , talvez tenha sido injusto.Seu conceito de saúde talvez não
estivesse relacionado a uma espécie de calmaria plácida e
beatífica.Talvez saúde mesmo seja o reconhecimento de nossa patologia
infinita.E doença maior que falta de sexo não há.É a qual padeço
dolorosamente nos últimos tempos.Por isto este texto indecente.
Ah, mas mais enfadonho e doentio que escrever sobre sexo é ler sobre sexo…