Soluções
Para não dizerem que sou enjoado e
que minha iconoclastia é fruto de depressão mal curada, frustraçõs
pessoais e melancolia patológica.Não diriam mal nem falariam mentira,
mas ainda assim, resolvi escrever algo edificante,não exatamente alguma
apologia, mas umas dicas e soluções a curto, médio ou longo prazo para
um mundinho melhor, dependendo da boa vontade dos consumidores.
Pois bem.Soluções diretas e pragmáticas então.Virar
de ponta cabeça os valores culturais.Simples assim, nada mais, e
acabariam quase todos os problemas de vulgaridade, grosseria e má
educação congênita.O maior chamarisco cultural do país é o futebol,
não?Pois então que fosse para o fundo do poço, se tranformasse em um
interesse quase sub reptício, afeito a umas poucas criaturas
extravagantes.Em vez do fanatismo futebolístico, a mania patológica por
poesia inglesa do século XIX , o gosto quase orgástico pela prosa
francesa de Flaubert e de Proust, da poesia lírica do período
pré-helenístico.Poder-se–ia organizar times passionais em que fanáticos
sairiam quase às vias de fato pelas suas paixões:’’Nabokov é melhor que
Dostoievski!’’, ‘’não, não,Kant não chega no dedinho mindinho de
Nietzsche!’’,’’seu energúmeno, a poesia árcade dá de dez nestas
baboseiras pós modernistas!’’…e por aí vai.Tudo com torcida
organizada, com direito a buzinaço e choro convulsivo.Ao menos,
estaríamos sujeitos a algumas discussões de mérito e não nos
submeteríamos às maçantes discussões de mesa de futebol em que
participantes discutem o problema do joelho de Juninho Paulista com a
paixão fervorosa de uma hecatombe nuclear.
Ao invés da cachaça como preferência alcoólica
nacional, o vinho.Seria salutar observar um monte de ferreiros e
mecânicos suarentos e desdentados pedirem aos arrulhos em mesas de bar
um Bordeaux 68 ou um Porto legítimo e ainda reclamarem da safra.E
devidamente realizarem todos os processos de degustação antes.Em vez de
cachaceiros, enólogos.
No lugar do popular novelão tupiniquim e dos
seriadinhos debilóides do tipo ‘’Friends’’, sessões diárias de Bergman,
Godard, Fellini e outros do tipo, sempre com o artifício do público
escolher o filme do dia seguinte.’’Amanhã tem ‘O espelho’ de Tarkovski
ou ‘Viridiana’, de Buñuel.Você escolhe, telespectador!’’.
Um ‘’Big Brother’’ adaptado, em que só entrariam no
confinamento loiras belíssimas com mais de 1,70m , mas com QI superior a
170.Os joguinhos eliminatórios seriam descobrir charadas do tipo ‘’quem
é quem na mitologia nórdica’’.
E, ah,principalmente, o fanatismo religioso seria
substituído por uma ardor estético pagão.A volta de um certo politeísmo,
em que os novos deuses seriam filósofos, poetas,escritores, cineastas,
artistas plásticos, etc.
Tudo isto e muitas coisas mais, claro, em nome da
alegria e do bem estar do povão.Como se alcançaria tudo isto?Evidente,
através da mídia.Sou meio elementar em certas questões metafísicas
complicadas do tipo ‘’quem veio primeiro, o ovo ou a galinha’’ e no
quesito ‘’formação de público de massa’’acredito piamente que quem
define os gostos populares é mesmo a mídia e não a massa.Os galinhões
são os donos de tv e os publicitários e os ovinhos vêem depois e são os
gostos pré fabricados do populacho.Mudando a textura e a cor dos ovos,
estaria tudo resolvido.Bastaria pois a substituição imediata dos donos
da mídia pelas hoje chamadas exceções, ou seja, por renomados poetas,
romancistas, pintores, historiadores, de preferência gente que nada
entende do meio jornalístico e publicitário tal como é realizado hoje.Ou
talvez que tivesse uma vaga noção de manipulação de consciências.Afinal
de contas, para o bem geral e coletivo, tudo é válido, não?Se for para
manipular, que seja por uma causa nobre.Os fins justificam os meios, já
dizia um futuro ídolo do povão dos novos tempos modernos, o craque
Maquiavel.Claro que a mediocridade grassa em demasia também neste meio
das aqui chamadas exceções.Mas ainda acredito que pessoas que
pensam e criam, ainda que pensem e criem mal, têm uma tendência menor a
serem trogloditas que jogadores de futebol e pastores evangélicos.Pelo
menos por enquanto…
Ah, e não, por favor, não me venham com este negócio
politicamente correto de quem determinaria o que é ou não bom gosto e o
que seria determinante na escolha do gosto popular.O grosso do povo não
escolhe nada, come de garfadas o que escolhem para ele.Então, ora pois,
que uns tantos eleitos fizessem as escolhas certas.Os eleitos de hoje
todos sabem quem são e todos também sabem fartamante das escolhas que
são feitas a revelia e a despeito do populacho.Pois voltemos então ao
ideal da república de Platão, em que os poderosos seriam uma espécie de
reis filósofos da mídia(os novos escolhidos, claro, não esta gentalha de
agora) e que ditariam as normas, valores e padrões estéticos de um
povo.Se quiserem , me candidato a imperador.Eu me submeto ao sacrifício
para a felicidade de todos e bem geral da nação.
E pronto, tenho dito, descrevi meu mundo ideal, e dei minhas
respostas fáceis e soluções pragmáticas para a relização deste
Éden.Depois não reclamem que eu só faço falar mal e criticar.