2005-04-03 23:04:00

       
  

Carpintaria cênica


O palco é mambembe

a peça aparentemente diversa

é sempre a mesma

limitando tempo espaço e marcações

que não delimitam a ação daqueles de maior talento

que sempre prejudicam o andamento das coisas que não andam

 

O texto sem enredo específico

se apóia na idéia de um trágico deslocamento

que se desdobra em cômico descontexto.

Nas entrelinhas do silêncio eloquente

na ausência de uma palavra viva

os atores exercem sua pantomima histriônica

imitando um gesto ancestral e inescrutável

sem decorar o que todos sabem que os aguarda

 

A previsibilidade é a chave da obra

e sua condição mais original

Sem direção, o caos se organiza em desesperos estáticos , tênues

que dão fôlego aos desânimos

que se reorganizam e se desdobram para o seguimento da peça,

que não pode parar

que obstinadamente não pára

a despeito e à revelia dos atores exaustos

pela repetição dos mesmos gestos , ações e intenções.

 

A platéia é o próprio elenco que se observa

na contínua e enganosa troca de papéis,

contracenando para suas próprias personas

uma ópera muda de sombras grandiloquentes

 

Não há palmas ao final, apenas uma reciprocidade de estranhamentos

O reconhecimento de um esforço aparentemente louvável

embora certa e mortalmente extenuante.

 

As resenhas compostas pela bilheteria pagam o fracasso fatal

com palavras doces e amenas

que tentam compensar as descompensações indeléveis

Não há fim, mas um recorrente intervalo ao cair do pano

quando o esquecimento dará lugar a um hiato eterno eterno e reconfortante.

 

Sobrarão os cacos que purgarão a catarse definitiva.

  

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