Carpintaria cênica
O palco é mambembe
a peça aparentemente diversa
é sempre a mesma
limitando tempo espaço e marcações
que não delimitam a ação daqueles de maior talento
que sempre prejudicam o andamento das coisas que não andam
O texto sem enredo específico
se apóia na idéia de um trágico deslocamento
que se desdobra em cômico descontexto.
Nas entrelinhas do silêncio eloquente
na ausência de uma palavra viva
os atores exercem sua pantomima histriônica
imitando um gesto ancestral e inescrutável
sem decorar o que todos sabem que os aguarda
A previsibilidade é a chave da obra
e sua condição mais original
Sem direção, o caos se organiza em desesperos estáticos , tênues
que dão fôlego aos desânimos
que se reorganizam e se desdobram para o seguimento da peça,
que não pode parar
que obstinadamente não pára
a despeito e à revelia dos atores exaustos
pela repetição dos mesmos gestos , ações e intenções.
A platéia é o próprio elenco que se observa
na contínua e enganosa troca de papéis,
contracenando para suas próprias personas
uma ópera muda de sombras grandiloquentes
Não há palmas ao final, apenas uma reciprocidade de estranhamentos
O reconhecimento de um esforço aparentemente louvável
embora certa e mortalmente extenuante.
As resenhas compostas pela bilheteria pagam o fracasso fatal
com palavras doces e amenas
que tentam compensar as descompensações indeléveis
Não há fim, mas um recorrente intervalo ao cair do pano
quando o esquecimento dará lugar a um hiato eterno eterno e reconfortante.
Sobrarão os cacos que purgarão a catarse definitiva.