Em defesa da vida.E da morte também.
Não consigo entender quem é contra a
eutanásia.Entendo como respeito à vida o direito de fazer com ela o que
se bem entende, inclusive desistir dela, quando não há possibilidade de
continuar vivendo sem dignidade.Certas vidas já são quase póstumas em
determinadas circunstâncias, e a eutanásia então já não se circunscreve à
perda de condições físicas de se continuar vivendo, mas à perda de
condições morais ou afetivas de ainda se viver.A eutanásia aqui ganha o
nome de suicídio. A meu ver, um pleno direito de um indivíduo.
Tendo a respeitar qualquer posicionamento religioso
ou metafísico que defina o valor de uma vida, mas respeito ainda mais as
liberdades individiuais de uma pessoa.A vida de cada um pertence única e
exclusivamente a este cada um.Se alguém acha que a vida é dom divino e
que não nos pertence, então que ele viva de acordo com os pressupostos
que ele definiu para a própria vida, mas que não venha meter o bedelho
na vida alheia e impor seus pressupostos como regras gerais de
comportamento humano.
Eu, cá pra mim, dou um valor relativo às coisas
concretas, que dirá de abstrações etéreas como a vida em si. Abstração
etérea sim senhores.Chega a ser um clichê a falta de sentido que há em
viver.Se nasce, se morre, se ama, se copula e se morre.Tudo isto sem
direção ou definição certa.Claro que havemos por bem inventarmos
sentidos vários em viver, desde os religiosos até os filosóficos.Estas
construções são todas necessárias à sobrevivência, mas acredito que
quando estas construções desabam, nada mais há que se fazer que
tentar descobrir outras estruturas ainda mais etéreas para se
tentar fazer sentido, ainda que seja o sentido da morte, que,
convenhamos, também não faz muito sentido.Trocamos uma falta de sentido
por outra quando morremos.Mas quando não há mais sequer prazer físico em
se continuar vivendo, defendo plenamente o direito da busca de faltas
de sentidos que possam compensar outras, se é que me entendem.E se não
há sequer a possibilidade de escolha, não havendo consciência ou
atividade cerebral, então a coisa se torna redundante:troca-se um estado
de inconsciência por outro.Uma perda pela perda.Um pleonasmo.Com a
vantagem da possibilidade de qualquer surpresa do lado de lá.
Não, não me entendam mal.Não faço aqui nenhum tipo de apologia ao
suicídio(à eutanásia, sim).Até porque não me suicidei, embora tenha lá
meus motivos para o ato.E não, não se assustem de novo, todos temos
razões de sobra para o suicídio.Uns mais, outros menos.Mas sinceramente,
desconfio seriamente de quem nunca na vida pensou em se suicidar.Dar o
devido valor à vida significa antes ter em mente as devidas implicações
do que seria a possibilidade de morrer.Sofisma?Claro que não.Pois se não
sabemos direito sequer as implicações do que é viver, ora esta…