2005-06-04 12:33:00

       
  

Não destemperado

A cada não, nova epifania de desencanto destoante
um novo verso capenga de melancolia esquálida
que encobrirá tumores fundos com estéticas rasas
 
A cada negativa peremptória, a afirmação da perseverança
o sorriso quase embotado porém confiante
de uma vitória final que não finda em não começar
 
Discrepâncias de assertivas tortuosas enviesadas
traduzindo recusas ostensivas rejeições incisivas
nuanças várias de um mesmo não positivamente afirmativo
 
que teima em brotar obstinado a cada instante
travestido em roupagem nova e variada:
novo rosto contrafeito,novo aceno negado
novo gesto de recusa,novo murmúrio indiferente
velho desmazelo de vontade contrariada
 
Soma de negativas acumuladas em bloco
reverberando contrastes rebuscados em resposta
a expectativas cristalinas em linha reta
a insipidez nauseante ante o gosto utópico
do objeto puro e saboroso a ser degustado
 
que não se prova porém
que se mantém equidistante
entre o aroma de um sim
que se percebe ao longe
e o destempero de um não
que atropela cheiros sabores paladares
 
De sobremesa a sobrevida ao tempero do desgosto
que incitará apetites não saciados
digeridos por pressentidas negativas em bloco
 
 
a revigorar o corpo
a passos contrários em descaminho sempre em frente
qual carangueijo de olhos vedados e boca aberta
a sorver o gosto da maré contrária.

  

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