Em (des)verdade
A verdade me persegue
me esteriliza em paz insípida
torce minhas dúvidas em repouso
A verdade me conduz
à cegueira da visão consentida
bloqueia minhas encruzilhadas e tangentes
obstrui a invenção de mim mesmo
A verdade não salva
e aprisiona libertações feéricas
rende sorrisos
complacentemente desdentados
vilipendia a imprudência redentora
limita a criação lúdica
de algo mais que a verdade
A verdade limita, mente ao se proclamar plena
e aliena tergiversações possíveis e necessárias
Em verdade, a verdade não se materializa
torna-se palpável de acordo com a correnteza
Em verdade, em paradoxo sofisma,
verdade não há
(primeira e derradeira verdade mentida)
apenas o consolo desconsolado
de pontes movediças
que conduzem à margem
de precipícios sólidos
Em verdade, há o caminho
a ser construído
em solo movediço
há o aceno ao longe de algo a ser perseguido
há a fuga da sombra inefável que persegue
há a tentativa de desapego ao chão limitador
calçado em verdade movediça
Em verdade,há a possibilidade
da desverdade lírica de cada mentira bem intencionada
que arromba todo o embotamento de convicções surdas
e restaura a recriação de uma recorrente ressurreição.