2005-06-16 23:30:00

       
  

Em (des)verdade

 A verdade me persegue

 

me esquadrinha nos becos
me esteriliza em paz insípida
torce minhas dúvidas em repouso

A verdade me conduz
à cegueira da visão consentida
bloqueia minhas encruzilhadas e tangentes
obstrui a invenção de mim mesmo

A verdade não salva
e aprisiona libertações feéricas
rende sorrisos 
complacentemente desdentados
vilipendia a imprudência redentora
limita a criação lúdica
de algo mais que a verdade

A verdade limita, mente ao se proclamar plena
e aliena tergiversações possíveis e necessárias

Em verdade, a verdade não se materializa
torna-se palpável de acordo com a correnteza

Em verdade, em paradoxo sofisma,
verdade não há
(primeira e derradeira verdade mentida)
apenas o consolo desconsolado
de pontes movediças
que conduzem à margem
de precipícios sólidos

Em verdade, há o caminho 
a ser construído
em solo movediço

há o aceno ao longe de algo a ser perseguido
há a fuga da sombra inefável que persegue
há a tentativa de desapego ao chão limitador
calçado em verdade movediça

Em verdade,há a possibilidade
da desverdade lírica de cada mentira bem intencionada
que arromba todo o embotamento de convicções surdas
e restaura a recriação de uma recorrente ressurreição.

 

 

  

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