2005-08-31 22:53:00

       
  

Prece

 

Tu que te deleitaste em tortura redentora
que permeaste tua ascese em irônica derrocada
fincaste os braços em abraço megalômano
naqueles teus algozes cujo ódio respondeste
com a vingança do teu perdão calculado
 
Tu que edificaste o mais belo projeto de fracasso
ergueste um monumento ao sangue derramado dos inocentes
e ao castigo afável perpetrado aos teus seguidores
Tu que arrancaste júbilo de tua dor projetada pela história
haverá de sorrir de cada ego intumescido pelas razões lineares

Teu legado é nossa rejeição à obviedade dos instintos
nosso apego incontido ao masoquismo que nos salva
a complacência sensual ao avesso e à mácula

Tua oferta magnânima é nossa dor incrustada de cada dia
nossa antropofagia esquizofrênica de teu sangue tua carne tua palavra
nossa tentativa melancólica de refutação ao prazer comum

Abutres redimidos nos alimentamos de tua morte
de tua palavra crucificada
do teu sangue coagulado em nossas entranhas

Teu corpo glorioso é repasto de teu rebanho antropófago
ávido pelo próprio abate reedificante

Por este alimento indigesto te agradecemos
Por este banquete dionisíaco
revelador de nosso sabor intrínseco

O gosto insuportável e irrefutável
De Tua de nossa carne em decomposição
continuamente recomposta em permanente ressurreição

Por esta orgia canônica em comunhão te agradecemos,senhor.

  

2005-08-27 03:22:00

       
  

Fel melífluo

Pobres daqueles que não sentem ou
nunca sentiram o desejo de vingança.Perdem um dos mais saborosos
prazeres humanos.A vingança, quando justa e calculada, planejada por
anos, é como um orgasmo tântrico, projetado ao infinito.A injustiça
cometida primeiro lhe confere um sentimento de santidade, como que uma
canonização de sua personalidade ofendida, um sentimento de êxtase
estratificado.A raiva que se acumula, o sentimento de perda indevida que
se sobrelevará contra o ofensor;sentimento este que se entranha nos
póros e que desabrocha em felicidade depois da justiça consumada, da
vingança perpetrada.

Maléfico isto ?Qual nada, todos os santos têm este
sentimento de vingança arraigado.Ao darem a outra face, sabem que a
cólera divina mais cedo ou mais tarde cairá sobre a cabeça dos
malfeitores.Cristo, quando crucificado, sabia que seus algozes pagariam o
preço devido em seu devido tempo.Mesmo o perdão ao arrependido é a
vingança da verdade, da humilhação àquele que , soberbamente, caiu no
erro e depois se ajoelha  percebendo seu engano, clamando por
misericórdia.Querem vingança mais saborosa?E àqueles que insistem no
erro, o fogo eterno dos infernos.A punição ao agressor é vingança;o
perdão ao agressor é vingança maior ainda.Meus caros, a bondade, quanto
maior se parece, mais traz dentro de si um gérmem mórbido enrustido.É da
natureza humana.E da Divina também.

Nada mais redentor para a alma de um candidato
derrotado em ver a ruína moral e administrativa daquele que o
venceu.Nada mais saboroso que contemplar a reprovação escolar do
imbecil adolescente que, por sua beleza, ganhava o coração de suas
paixões platônicas de adolescência.Nada mais revigorante, ressuscitante
até, que ver, depois de anos,a mulher eternamente amada, descobrindo ,
depois de anos e erros amontoados, que você era o grande amor da vida
dela.Tudo isto, consciente ou inconscientemente, configura as várias
nuanças do sentimento sublime da vingança, muito achacado e menosprezado
pelos politicamente corretos e pobres de espírito.Você pode até receber
todo o prazer da vingança em tom blasé, mas um
sorrisinho suave, quase imperceptível, sempre estará estampado
em seus lábios…

Tenho cá para mim que a vingança, abaixo do amor, ou
melhor, unido a ele de forma subliminar , guia a história
humana.Sim, sim, o amor compreende a vingança sim senhores.O amor é
incondicional e se revela até nestas reviravoltas do destino.O amor que
está explícito no perdão também é vingança, pois perdão é amor, mas,
como já disse, perdão também é vingança, a vingança da razão e da
justiça.O amor também se configura no esquecimento, que é uma espécie de
perdão às avessas, que configura a vingança da indiferença.

Podemos inclusive nos vingar de nós próprios,
deixando de amar alguém que nos fez sofrer, mudando de ideologia,
trocando de partido, de visual, de vida, abandonando gostos que
julgávamos imutáveis em nós.Podemos nos achacar investindo contra aquilo
que pensávamos ser incrustado em nossas entranhas, nos violentar.Esta
mescla de dor e prazer em nos desviarmos de nós mesmos contribui para a
reinvenção de nossa própria personalidade, na destriuição de nosso eu e
na sua consequente reedificação.Nos vingamos de quem nos fere, inclusive
de nós mesmos, nosso piores agressores.

Amar, queridíssimos, também é se vingar.De tudo e de todos que
merecem a vingança, de todas as formas diretas, indiretas, sutis,
subliminares pela qual ela se observa.Amar é ser complacente às
injustiças sofridas e saborear o revés do tempo e das
circunstâncias.Amar de verdade é coisa de sadomasoquistas.

No mais, a vingança em si é sempre edificante.Pune  o agressor e
o reeduca através da mácula e redime a alma e sobretudo o ego do
vingador.Vingança, meus caros, não só é prazeirosa como também é
pedagógica, reveladora da alma humana e , sobretudo, a
mais lasciva, a mais sexual arma da justiça.Toda vingança é um
coito metafísico entre os atores  nela enredados.

Mas reparem:vingança é privilégio dos justos.Não confundam uma bela e
justa vingança com psicopatias e afins.O prazer pode até ser igual, mas
há que se considerar as causas.As causas precedem as intenções,
senhores.E as causas devem ser justas.Só pode se vingar quem tem motivo
para tal. Quem julgaria as causas?Ora, abram alas às consciências,
caríssimos…

  

2005-08-23 09:35:00

       
  

O oitavo pecado capital

Deveria haver no catecismo um oitavo
pecado capital a ser considerado:a chatice.Aporrinhar o próximo deveria
ser considerado ofensa grave aos preceitos cristãos.Vejam bem:a inveja,
a gula, a luxúria são pecadilhos de muito menor gravidade, porque não
se manifestam às claras.Pessoas têm receio de parecerem invejosas,
taradas ou gulosas.Mas a chatice é espontânea, visceral, manifesta,
escancaradamente manifesta, posto que o chato, a rigor, nunca tem
consciência da própria chatice.Talvez por isto mesmo haveria este
empecilho de inserir a chatice no índex católico:justamente o fato de o
chato não ter consciência do mal que faz.

Mas isto traz à baila um probleminha de ordem
teológica: um pecado só é de fato pecado quando o pecador tem
consciência do mal que faz ao semelhante? Ora, mas o mal feito, feito
está, independente da consciência ou não do malfeitor.Se um assassino é
amoral e não se vê perseguido por nenhuma culpa, isto não o reabilita
nem traz de volta à vida o assassinado.Como então o tal matador ganharia
o reino dos céus?Só porque o sujeito não tem escrúpulos morais e não
sabe que matar é errado?Ou seja, a inescrupulosidade, a ignorância moral
seria uma espécie de habeas corpus para o alma penada que se veria
livre da pena?

Assim com o chato.Sua chatice incomoda e independe de
sua ilusão pessoal de que não é chato.O problema é que a chatice é
menos definível que um mal como o furto ou o assassinato.A chatice é
abstrata e subjetiva e mais afeita às leis da física e da
antropologia(tudo é relativo, lembram?).Definir e objetivar a chatice é
tarefa difícil, sendo que a dita se aplica mais ao fígado que ao
cérebro.A chatice de um depende e varia de acordo com a personalidade do
que está ao lado do chato.Portanto, seria difícil julgar taxativamente o
que poderia >

O mais grave, e infelizmente menos demonstrável em
palavras, é o chato metafísico;aquele que incomoda a sua alma, as suas
entranhas.Que sofisma sempre sem senso de humor, que escreve e diz
verdades absolutas sem nenhum charme(verdade sem estilo é chata), que
traveste clichês com aparência barroca, que intelectualiza futebol, que
torna enfadonhos sentimentos nobres como o amor e a amizade.Toda esta
chatice é perfeitamente demonstrável em palavras ,mas complicada de se
definir a olho nu.O chato metafísico é uma entidade abstrata e
escorregadia.Só mesmo uma deidade como o Deus católico para julgá-lo
pessoalmente.Aos mortais resta o direito de, diante do chato metafísico ,
apenas ensaiar um muxoxo de preguiça e enfado.

Mas podemos ajudar um pouquinho a misericórdia divina
nesta árdua tarefa de identificação dos chatos metafísicos.Há, por
exemplo, profissões que incitam a chatice metafísica.Disse há pouco do
incômodo de tornar enfadonhos sentimentos nobres.Esta é uma tarefa
afeita a pastores de determinadas igrejas,de líderes de escoteiros e
assistentes sociais que falam sempre com voz de diabetes, excessivamente
açucaradas, sobre amor e amizade.Toda vez que contemplo uma criatura
destas, tenho vontade de travar conhecimento com um advogado canalha.Mas
este último me lembra os sofistas sem senso de humor.Comentaristas de
futebol dispensam comentários sobre sua chatice intrínseca.E pior mesmo
que todos estes são os jornalistas que já optam desde o início pela
chatice como profissão:a verdade dos fatos, a verdade chatinha e
comezinha dos fatos…Ah, e os acadêmicos que, ao contrário dos
jornalistas, adoram rebuscar e adornar verborragicamente um buraco na
rua.

Em suma, identificáveis ou não, os chatos são os criminosos mais
pérfidos, porque têm sua atividade criminosa afeita aos padrões
sociais.A chatice se molda a todas as profissões, estilos de vida,
personalidades, padrões morais, éticos, filosóficos, etc.A chatice é uma
doença inescrutável e , por isto, inimputável.Para desconsolo de todos
os não chatos.Mais triste é que estes últimos mais e mais se tornam
minoria.

  

2005-08-13 00:32:00

       
  

Mesmos contrários

Há na saliva insípida uma gota de bile
extraviada do fluxo plácido da corrente sanguínea
extraviada do curso monótono da direção dos fatos
incrustada na dimensão subterrânea do sorriso complacente
 
Há no aceno parcimoniso um gesto autoritário embrionário
uma violência implícita nas mãos espalmadas em doação
Há na oferta uma agressão semi revelada
uma semi descoberta do ego intumescido
 
Há no gesto heróico um coito beatífico sutilmente obsceno
consentido entre redentores e redimidos
 
Mas também na queda há uma reedificação à espreita
Na morte uma esperança cega e certa
da construção objetiva da falta de sentido
Na dor  a expectativa do alívio consequente
e da descoberta epifânica do prazer pelo seu avesso
Há sobretudo no soco a confluência de duas peles que se tocam
 
Há no contraditório seu avesso cartesiano
a certeza da dúvida tácita e generosa
Há no momento seguinte
o questionamento acolhedor do instante anterior
 
Há em cada coisa sua inerente e ansiada anulação
A construção metódica dos opostos sobrepostos
formulando as suspeitas certezas alentadoras
A sombra do reflexo do avesso tornando-se
sua igual pelo reverso das posições
 
Eterna irmandade incestuosa entre Caim e Abel
Generosidade insidiosa do assassinato consentido
Fotografia estratificada em negativo
carcomida e novamente revelada e desvelada pelo tempo
 
Há neste permanente regurgitar de coisas
um apetite voraz pelo próprio vômito
 
Este prazer mórbido de se saber amálgama
entre tudo e coisa nenhuma
substância vária e contínua  dos mesmíssimos contrários
e suas sucessivas camadas subliminares.

  

2005-08-09 15:05:00

       
  

Depois do fim

Aspirantes a crédulos perguntam se
existiria vida após a morte, para ver se amenizam o fim.Se houver,
espero que seja breve e não eterna.A idéia de eternidade me assusta mais
que a idéia de finitude.Todas as opções pressupostamente alentadoras de
paraíso de todas as religiões me soam no mínimo tediosas.Imagino
com uma certa preguiça a versão do paraíso católico, por exemplo.Um
monte de beatos sem sexo, sem direito a poder falar mal dos melhores
amigos, sem nenhuma espécie de competição, e, sobretudo, sem nenhum
alívio, sem nenhuma ínfima desgraça para atenuar o tédio perene de uma
estado de graça eterna.Ora, é preciso uma certo dissabor, um certo
descaminho para que sobrevenha um melhor degustar da felicidade.Até a
felicidade enjoa, se constante.Meu medo maior é me tornar eternamente
feliz.Já viram a cara das pessoas plenas de felicidade?Já tentaram
conversar com um felizardo perene e pleno?Será nisto que se convertem
todos os mortais no paraíso dos católicos?Cruz credo.

Melhorzinho mas machista é o paraíso dos
muçulmanos.Dezenas de virgens eternamente virgens, refeitas,
revirginadas pela graça de Alá ao bel prazer de cada um que merecer uma
boa vida pos mortem.Não daria muita trela para a virgindade,desde que
fossem bonitinhas as moças.Mas reparem:mesmo que sejam sessenta virgens,
uma eternidade com as mesmas meninas cansa.E também há problemas
estruturais graves neste paraíso islâmico .E exercerei aqui, se me
permitem, meu exercício de generosidade.Se há um paraíso 
machista que atende exclusivamente aos anseios masculinos, que será das
mulheres , coitadas?Haveriam as pobres de ir para o paraíso com a função
exclusiva de se tornarem eternas virgens servidoras, funcionárias
públicas , anjos beatíficos da furunfação?Ou teriam também o direito a
dezenas de servidores homens(também virgens?).E mais:que seria dos
pobres homossexuais forçados a diariamente extinguir a virgindade das
moças?Ou seja, um paraíso sexualizado como este implicaria sérios
problemas sociológicos, como se pode perceber.

Sou mais afeito à idéia cardecista de reencarnação
por uma simples razão:a perda da memória, a desmemória do que já se
passou.Você comete seus erros e acertos e depois ajusta as contas na
próxima vida sem lembrar de nadinha, desde o moleque que pisava no seu
pé na infância até a mais dolorosa rejeição amorosa.E ainda quem sabe
poderia na próxima encarnação se vingar inconscientemente do moleque e
da moça rejeitando esta e pisando no pé daquele.Bem, mas aí o assunto já
foge da justiça divina e entra em um terreno mais afeito a planos menos
beatíficos…Além do mais, a vingança só é agradável se consciente.

Mas o fato é que esta idéia da reencarnação me soa
muito capitalista, com direito a saldo positivo e negativo desta vida
que você pagaria na próxima.Sim, sim, sei que o espírio capitalista é o
que mais se molda à condição humana, mas , por Deus, esperaria mais da
condição ‘’Divina’’, ora esta…

Enfim, o problema de alguém como eu que duvida de tudo mas quereria
acreditar em qualquer coisa é este:não achar um modelo de paraíso, de
vida pós morte que se adapte às minhas idiossincrasias.Os paraísos
religiosos são todos construídos baseados em tradições culturais muito
específicas relativas a costumes e épocas precisas.Todos os
paraísos de todas as religiões são insuportavelmenhte
antropológicos.Quereria um que fosse absoluto e atendesse a todas as
minhas expectativas, que, por sua vez, não são imutáveis.Tenho o direito
de mudar de opinião, de gosto, de tudo.O defeito de todos estes
paraísos é uma certa imobilidade metafísica.Todos eles oferecem um
modelo estático de felicidade.A uma vidinha tediosamente beatífica e
eternamente feliz deste jeito, prefiro um fim de fato, uma boa morte
mesmo.As pessoas têm medo da não existência.Eu, preguiçoso que sou,
sinto mais tédio da existência, quanto mais de uma existência eterna.O
fato, senhores , é que tudo cansa.Mesmo um paraíso com dúzias de virgens
eternamente revirginadas.Tudo mais cedo ou mais tarde se torna
fastidioso.Tudo enjoa, até a felicidade eterna.

  

2005-08-03 02:15:00

       
  

Cadê a aura?

Há uma clara simbiose entre arte e
religião, pelo menos no que toca ao conceito do que vem a ser sagrado ou
não.Existe um certo respeito reverencial por tudo aquilo que se
proclama artístico ou religioso.A arte é uma espécie de religião para os
mais refinados de espírito, eu diria(em tese, em tese…).De quelquer
forma,cuspir em chão de Igreja ou passar meleca na Mona Lisa é acintoso,
constitui ofensa grave.Mais pagã, mas não menos pedante, a arte revirou
um pouco este conceito no século passado, tornando o profano também
sagrado e, de uma forma meio enviesada, também o inverso.Mas a aura de
sagrado continua lá, mesmo que travestida de profana.Quando Duchamp mete
uma roda de bicicleta no meio de um museu e diz que é arte, logo se
arvora um séquito de crentes em volta do objeto de culto;quando Andy
Warhol desenha uma série de latas de sopa em um quadro, lá vai outro
grupinho de iluminados reverenciar as latinhas, todos em fila para
oração.

Esta suposta inversão do sagrado e do comum(Leia-se
‘’profano’’ para o manual dos pós modernos) é rigorosamente falsa.Uma
lata de Coca cola não deixa de ser uma lata de Coca Cola simplesmente
porque Warhol a tirou de seu contexto básico e a colocou em um quadro no
Louvre.Há uma certa necessidade humana quase que visceral de fugir da
própria mediocridade, nem que seja pela celebração desta própria
mediocridade, que foi o que fizeram os senhores Warhol e Duchamp entre
tantos outros pseudo artistas do século passado que supostamente
‘’viraram pelo avesso os conceitos da arte’’.Viraram nada.A arte , a
verdadeira arte é em si o verso e o reverso das coisas, a verdadeira
arte implica em uma celebração e ao mesmo tempo em uma crítica do objeto
descrito.O que fizeram estes dois senhores citados é mera alegoria de
cinismo.Uma atitudezinha blasé de contemporização distanciada da
sociedade de consumo;o que eles fizeram não foi arte, foi moda, ou se
preferirem, pura viadagem no mau sentido da palavra.

Certo artista que não me lembro agora o nome(nem
desejo lembrar), seguindo a onda de Duchamp, botou em um museu uma
instalação que era simplesmente uma privada.Um esperto admirador da obra
urinou em cima dela.Foi retirado furiosamente como um pecador que
profanava a obra sacra de uma artista.Ora, na verdade, o rapaz
simplesmente estava abençoando a obra em questão, tirando do ato de
urinar sua função utilitária e redimensionando este ato, transmutando-o
em uma ato sagrado, completando a obra de arte.Arte interativa,
senhores.Porque o preconceito?Porque uma privada pode ser retirada de
seu contexto original e se transformar em arte e o ato de usar a privada
também não pode ser artístico em si?Convenhamos, se é para ser pós
moderno e romper os tabus e separações do que  venha a ser
artístico ou não, então que sejamos radicais até o extremo, ora bolas…

Pois muito bem, esta celebração vazia do que está em
nosso redor só serve para nos imbecilizar ainda mais tornando sagrado o
que quer que seja.Se sacralizar algo é inerente ao ser humano, então que
se torne sagrado algo que valha a pena se tornar sagrado, ainda que
seja sagrado de mentirinha(como-não espalhem-tudo que é sagrado é de
fato mentirosamente mas-às
vezes-necessariamente segrado.Entendem?).

Querem um conselho?Sacralizem sentimentos, sensações, tais como amor,
vingança, doação,ódio, respeito, estas coisas etéreas e não
palpáveis.Pelo menos, na dúvida destes sentimentos serem sagrados
ou não, não corremos o risco de topar com adoradores de privada em
museus.Vocês poderiam me questionar que neste caso correr-se-ia o risco
de decretar a morte das artes plásticas.Ah, mais sou um sujeito
mesquinho, sabem?Minha área é mais literária e meus símbolos artísticos
são letrinhas bem menos concretas que latas de sopa.Os artistas
plásticos que resolvam o imbróglio em que se meteram. Ademais,a
literatura ruim e picareta é mais perceptível que uma roda de bicicleta
no meio de um museu.Pelo menos deveria ser, eu acho.