Banhos
Poesia
Banhos
Definições arbitrárias quase justas e suas consequências
Que diabos é ser você mesmo?Isto não
existe, ora esta.Estas >
A vida é tal e qual aquela lei clássica da física, a
única que decorei(sabia que era por alguma razão):a cada reação
corresponde uma reação.Assim com tudo.Na dalética da história, em um
simples diálogo, em uma tese de doutorado, em uma obra de arte, e
também, claro, com sentimentos como amor e ódio.Quem nunca odiou, não
sabe amar direito.Ama como padre ou líder espiritual, com aquele amor
plácido, xôxo, aguado e sem graça.Amor coletivo é coisa estranha.Ninguém
ama tudo e todos ao mesmo tempo.Admito a hipótese carola de abraçar a
sua cruz, de assimilar toda a realidade à sua volta,mas amar o tempo
todo com sorriso complacente é coisa de psicóticos.Escolhe-se o
que se ama ou se odeia. E justamente estas escolhas amorosas ou
odiosas dão as devidas máscaras ajustáveis ao caráter que você vai
compondo aos poucos com o que você tem mais à mão.Caso seja um bocó
apalermado, vai se contentar com o universozinho ao seu redor, e aí,
pobre coitado, se for brasileiro, ,provavelmente se tornará um admirador
de pagode , axé music e fatalmente se transformará em um barrigudinho
desdentado contente da vida cantando para a vida te deixar levar.Mais ou
menos detestável você será de acordo com sua simpatia, mas sempre
detestável.Cumprirá, pois , a função social de ser menosprezado por
gente melhor que você.Além de ser útil, estará em maioria e geralmente
se sentirá em casa.E nunca desconfiará, nem de longe, que é uma
criaturinha detestável.Muito pelo contrário:será bem feliz.
Caso não se adapte ao seu meio, haverá de ler, ouvir e
assistir o que não diz diretamente respeito ao se habitat, mas diz
respeito a algo maior que diz respeito a tudo o mais e além.Se ler
um coisinha aqui , outra acolá, ver um negocinho ou outro, se tornará um
pedante, talvez ainda mais detestável que os detestáveis
popularescos.Se ler e ver um tantinho mais, com algum critério melhor de
seleção, há alguma chance de se tornar alguém razoavelmente
interessante, o que já lhe bota em uma rarefeita minoria.Ser alguém
inteligente já depende um tanto de algumas características inatas.E ,
meu caro, nascendo inteligente, aproveitando sua inteligência, apurando o
bom gosto e observando mais precisamente o que acontece ao seu redor,
tenho a lhe dizer que as chances de se tornar um solitário infeliz são
grandes, a não ser que você nasça no lugar certo , no momento certo.Já
imaginaram quantos Shakespeares ou Mozarts em potencial não foram
desperdiçados nascendo na Uganda?Sim sim, com raras, raríssimas
exceções, o meio em que se vive é uma nhaca que atrapalha até mesmo os
mais geniais.Poucos são os que, além do talento, têm força de vontade
suficiente para superar algumas barreiras.Por vezes, a inteligência é
até mesmo uma barreira para se tornar um radical em defesa de causa
própria.Yeats dizia com razão que os piores sempre são cheios de
intensidade passional enquanto os melhores são quase sempre meio
borocochôs.Verdade.Há que se lembrar, claro, que Yeats, um inglês de
fino berço, nasceu na hora e no lugar certo para explorar sua
genialidade.
De qualquer modo, não se preocupe em ser genial que, de uma maneira
ou de outra,o negócio dá muito trabalho.Esta coisa de
enfrentar moinhos de ventos é de fato uma constante na vida desta
gente.E dá trabalho, muito trabalho.Pode até ser recompensador, de
alguma forma, mas a recompensa é muito abstrata, e não é visível a olho
nu por quase ninguém, principalmente por aqueles barrigudos que se
entopem de Chopp e de pagode, os tais detestáveis felizes que
mencionei.Pensar dói, caros.Pensar de maneira muito sofisticada, então,
causa cefaléia metafísica permanente.E a ressaca, apesar de poder ser
eventualmente abonadora para o resto da humanidade, traz prejuízos à sua
saúde individual.Então, pense bem se quer de fato pensar direito e se
tornar, eventualmente, alguém adorável intrinsecamente, mas adorado por
alguns poucos(às vezes, quase ninguém).
Aos teimosos, com carinho.
Nada melhor que um erro público para
expurgar pecadilhos pessoais.Tanto mais quando se trata de brasileiro,
que, mal aparece um escândalo de corrupção com dinheiro público, vai
logo culpando toda a >
Há três >
É projeção patológica do erro.O sujeito que
não admite que é cego e projeta sua própria cegueira nos
outros.Compreensível, uma vez que é difícil dar uma guinada de cento e
oitenta graus em toda uma história de vida.Mudar de opinião depois de
certo tempo e de certa idade é quase como mudar de opção sexual.Um
negócio deveras impossível.Mas como política não tem a ver(ou quase não
tem-ou não deveria ter) com hormônios ou gostos peculiares e
instintivos, pode-se sim mudar de idéia sem alterar os seus ideais. O
vira folha que, no caso de políticos, é um pária aceito com
desconfiança, na vida pessoal pode ser mais meritoso, uma vez
que tenha sido enganado e traído pelos próprios representantes
de seus ideais.Trocam-se os atores, ficam os ideais, ora esta.E você
não será defenestrado como cafajeste sem opinião, meu caro
teimoso.Antes, será recebido de braços abertos(por mim, pelo
menos.Serve?) como alguém que teve suficiente honestidade moral e
intelectual para admitir que errou e que mudou de idéia, mas não de
valores.
O problema é que às vezes este processo de metamorfose demora, e
demora tanto que nas eleições mais próximas, o teimoso é capaz de votar
de novo nas mesmas aberrações que elegeu, por pura birra esquizofrência
de projeção de erro e cegueira acumulada.Daí então lá se vão mais quatro
anos de porcaria, graças à arrogância do sujeito até inteligente que é
capaz de sacrificar milhões de pessoas apenas por não admitir que
cometeu uma burrice.
Reza a bíblia que os justos sempre pagam pelos pecadores.No Brasil, a
coisa é mais grave:justos e pecadores pagam juntos pelos pecados de
todo o mundo, principalmente dos justos que, por ignorância moral e
intelectual , se fazem de pecadores, pensando que são justos, consciente
e inconscientemente.Mais que política,uma verdadeira suruba teológica
este país.
Festa
A voz do diabo
O mal do diabo é que ele é incapaz
de amar.Não consegue gostar de ninguém.Nem um tiquinho que seja.Sua
incapacidade de sentir algo por alguém é que o torna presa de sua
própria crueldade.Em suma, pode-se depreender desta lenda que a origem
de todo o mal é a ignorância.Quer seja ela sentimental, moral,
intelectual ou ética.Através da ignorância,uma pessoa está sujeita a
se tornar um espírito de porco, quase tão feio quanto o diabo.
A personificação individual do capeta já é
malcheirosa, que dirá de um povo inteiro.E bem sabemos(ao menos eu sei)
que toda aglomeração cheira à mediocridade, condomínio preferencial
do cramulhão.Por isto meu medo de decisões populares.Não, não é nada
contra a democracia, dos males o menor, como já dizia Churchill.Mas
creio que votações em membros de executivo e legislativo já são mais que
suficientes para suprir meu desejo de consulta popular.Referendos para
este ou aquele outro tema em particular sempre me cheiram à enxofre
populista:o mal personificado de uns tantos políticos sapientes em sua
ignorância moral calculada somado à burrice endêmica e coletiva do
populacho.Desde quando cidadãos comuns são aptos a decidirem se comércio
de armas deve ou não ser proibido?Desde quando pessoas comuns e em
sua maioria mal informadas são aptas a decidirem pela
liberação ou não de drogas ou qualquer outra coisa do tipo? Certas
decisões devem se circunscrever a alguns especialistas e jamais serem
mote de voto popular.Já imaginaram se submetem todas as decisões
políticas ao público? Não haveria reforma previdenciária, a jornada de
trabalho seria de duas horas mensais e o país(qualquer país) iria à
bancarrota.Isto só para ficar em dois exemplinhos de ordem
econômica.Desnecessário dizer que em um país como o Brasil, com oitenta
por cento de analfabetos funcionais, a coisa se complicaria ainda
mais.Desnecessário, mas digo assim mesmo, só para lembrar.
Não adianta, Voltaire estava mesmo certo:o povo
precisa de uma canga.Mesmo em países mais civilizados, a constante de
uma população é o senso comum, que é meio caminho andado para a
mediocridadae, para o mal, pai e mãe de todas as formas de ignorância,e
filha desta mesma união incestuosa.Tomem a Alemanha, país cujo histórico
de filosofia e música é superior a todos os demais.Pois bem, qual o
maior legado histórico da Alemanha no século vinte?O nazismo.Culpa de
quem? Do povão, que aplaudiu Hitler e seus asseclas.
Ah sim, sim, o nazismo foi autocrático, mas justamente porque o povo
quis assim.Eles que escolheram a canga errada, ora pois.Há que se ter um
mínimo de bom senso(bom senso, não senso comum) e regra para escolher a
canga certa.Por isto a idéia- se não genial, paliativa- de democracia
representativa, em que votamos em quem nos irá guiar.A idéia
de chefia de estado não é agradável, eu sei, mas esta é
necessária justamente à manutenção de uma certa liberdade consentida,
uma vez que liberdade escancarada se transforma em avacalhação, para
conceituar eufemisticamente. E há que se escolher estes chefes
de estado,, há que se formatar o estado em si, ainda que
seja através de um voto por aproximação
instintiva.Basicamente, há que se escolher o governo, cujos assessores,
ministros e técnicos farão algumas escolhas mais acertadas por
nós, sobre assuntos os quais não somos suficientemente informados.A
possibilidade de erro ao votar em um comando de estado é
enorme, e erramos continuamente, mas pelo menos não corremos o risco de
sermos diretamente governados pelo povão, ou pelo diabo, como
preferirem, através de referendos ou quaisquer outros instrumentos de
absoluta e nefasta soberania popular.
Mesquinharia virtuosa; corrupção lícita
Que dizer de um sujeito de má índole
que de uma maneira tortuosa e até mesmo nefasta caminhou o caminho da
virtude? Como tortuosa é esta frase, tortuosa será esta crônica, porque
munida de intenções subliminares do autor.Afinal, não é mesmo o todo
poderoso que diz escrever certo por linhas tortas? Pois cá estou a
seguir os passos divinos.
Mas enfim,o sujeito de má índole em questão é o
tal juiz ladrão de futebol que de maneira torpe foi comprado para
manipular resultados de partidas de futebol.O vício a que aludi é a
corrupção.A virtude é o descrédito do futebol como instituição.Claro que
uma virtude mesquinha, uma vez que esta atende aos gostos subjetivos
deste autor.Tenho pela cultura futebolística o mais cultivado e esmerado
asco,constituindo esta uma espécie de ícone da imbecilidade
nacional;uma excrescência de comportamento que rouba a cena de outros
aspectos infinitamente mais relevantes do cenário cultural
brasileiro.Daí minha satisfação em ver qualquer ente nocivo, qualquer
elemento desestabilizador que possa conspurcar o tal esportezinho
infame.
Imaginem um Brasil sem futebol.O paraíso que seria um
país sem comentaristas apalermados que discutem uma partida como se
fosse a guerra do Iraque, sem jogadores debilóides que não sabem
concatenar uma frase à outra, sem torcedores que trocam uma noite de
sexo por uma final de copa do mundo;imaginem um país sem esta
nauseabunda cultura futebolística que imbeciliza uma nação inteira…
Como diz o adágio popular, há males que vêm para bem,
e neste caso específico do juiz ladrão,o mal foi, vejam só, a
corrupção, velha conhecida dos brasileiros, a dar um pequeno passo no
rumo virtuoso do fim do torpe futebol.
Ah, não tenho ilusões tão desmesuradas e sei que o
esporte maldito continuará, apesar dos tropeços(acertados e nobres,
diga-se) de seus dirigentes.Mas ainda que nada acresente o fato da
arbitragem corrupta em prol do meu nobre sentimento de ojeriza pelo
futebol,não deixa de me acometer um certo prazer mórbido, mesquinho
mesmo, admito, em ver ludibriados os torcedores apalermados em sua
devoção passional a esta bobagem trágica que é o futebol.
Não consigo deixar de nutrir uma simpatia quase que
diabólica pelos tais cartolas que manobram resultados em benefício
próprio;mais ainda por juízes que trapeaceiam em partidas. São criaturas
que, inconscientemente, contribuem para o bem , agindo mal.Uma
contradição miraculosa, mais epifânica que o famoso dito de maquiavel, o
tal ”fins que justificam os meios.”Pois o Principe ideal de maquiavel
tinha consciência destes meios;já os cartolas corruptos são meros
párias que , através de sua desonestidade, contribuem para o beatítico
fim do futebol.A corrupção no futebol é, a meu ver, a única lícita e
perdoada.Tenho admiração por qualquer ser que contribua para a derrocada
do futebol, seja de que modo for.
Na minha tenra infância,cheguei a querer ser super herói de história
em quadrinhos.Por curvas tortuosas , este juiz corrupto recuperou minha
infância utópica, me devolveu o desejo de heroísmo perdido.Quando
crescer, quero ser juiz ladrão de futebol e acabar com este esporte
pernicioso.