Definições arbitrárias quase justas e suas consequências
Que diabos é ser você mesmo?Isto não
existe, ora esta.Estas >
A vida é tal e qual aquela lei clássica da física, a
única que decorei(sabia que era por alguma razão):a cada reação
corresponde uma reação.Assim com tudo.Na dalética da história, em um
simples diálogo, em uma tese de doutorado, em uma obra de arte, e
também, claro, com sentimentos como amor e ódio.Quem nunca odiou, não
sabe amar direito.Ama como padre ou líder espiritual, com aquele amor
plácido, xôxo, aguado e sem graça.Amor coletivo é coisa estranha.Ninguém
ama tudo e todos ao mesmo tempo.Admito a hipótese carola de abraçar a
sua cruz, de assimilar toda a realidade à sua volta,mas amar o tempo
todo com sorriso complacente é coisa de psicóticos.Escolhe-se o
que se ama ou se odeia. E justamente estas escolhas amorosas ou
odiosas dão as devidas máscaras ajustáveis ao caráter que você vai
compondo aos poucos com o que você tem mais à mão.Caso seja um bocó
apalermado, vai se contentar com o universozinho ao seu redor, e aí,
pobre coitado, se for brasileiro, ,provavelmente se tornará um admirador
de pagode , axé music e fatalmente se transformará em um barrigudinho
desdentado contente da vida cantando para a vida te deixar levar.Mais ou
menos detestável você será de acordo com sua simpatia, mas sempre
detestável.Cumprirá, pois , a função social de ser menosprezado por
gente melhor que você.Além de ser útil, estará em maioria e geralmente
se sentirá em casa.E nunca desconfiará, nem de longe, que é uma
criaturinha detestável.Muito pelo contrário:será bem feliz.
Caso não se adapte ao seu meio, haverá de ler, ouvir e
assistir o que não diz diretamente respeito ao se habitat, mas diz
respeito a algo maior que diz respeito a tudo o mais e além.Se ler
um coisinha aqui , outra acolá, ver um negocinho ou outro, se tornará um
pedante, talvez ainda mais detestável que os detestáveis
popularescos.Se ler e ver um tantinho mais, com algum critério melhor de
seleção, há alguma chance de se tornar alguém razoavelmente
interessante, o que já lhe bota em uma rarefeita minoria.Ser alguém
inteligente já depende um tanto de algumas características inatas.E ,
meu caro, nascendo inteligente, aproveitando sua inteligência, apurando o
bom gosto e observando mais precisamente o que acontece ao seu redor,
tenho a lhe dizer que as chances de se tornar um solitário infeliz são
grandes, a não ser que você nasça no lugar certo , no momento certo.Já
imaginaram quantos Shakespeares ou Mozarts em potencial não foram
desperdiçados nascendo na Uganda?Sim sim, com raras, raríssimas
exceções, o meio em que se vive é uma nhaca que atrapalha até mesmo os
mais geniais.Poucos são os que, além do talento, têm força de vontade
suficiente para superar algumas barreiras.Por vezes, a inteligência é
até mesmo uma barreira para se tornar um radical em defesa de causa
própria.Yeats dizia com razão que os piores sempre são cheios de
intensidade passional enquanto os melhores são quase sempre meio
borocochôs.Verdade.Há que se lembrar, claro, que Yeats, um inglês de
fino berço, nasceu na hora e no lugar certo para explorar sua
genialidade.
De qualquer modo, não se preocupe em ser genial que, de uma maneira
ou de outra,o negócio dá muito trabalho.Esta coisa de
enfrentar moinhos de ventos é de fato uma constante na vida desta
gente.E dá trabalho, muito trabalho.Pode até ser recompensador, de
alguma forma, mas a recompensa é muito abstrata, e não é visível a olho
nu por quase ninguém, principalmente por aqueles barrigudos que se
entopem de Chopp e de pagode, os tais detestáveis felizes que
mencionei.Pensar dói, caros.Pensar de maneira muito sofisticada, então,
causa cefaléia metafísica permanente.E a ressaca, apesar de poder ser
eventualmente abonadora para o resto da humanidade, traz prejuízos à sua
saúde individual.Então, pense bem se quer de fato pensar direito e se
tornar, eventualmente, alguém adorável intrinsecamente, mas adorado por
alguns poucos(às vezes, quase ninguém).