2005-11-25 04:51:00

       
  

Padrões

Percebemos que estamos envelhecendo
quando adquirimos certos padrões de comportamento, certos costumes que
se revelam indissociáveis de nossa personalidade.Desde os sintomas mais
naturais, quando sistematicamente dormimos de um lado da cama ou roemos
as unhas até quando adquirimos vícios ideológicos de um viés ou
outro.Envelhecer é ir perdendo paulatinamente o gosto da novidade das
coisas e nos adequarmos a um padrão construido por nós mesmos, seja de
que ordem for:filosófica, ideológica ou cotidiana e habitual .

Há os que se cercam de tamanho arcabouço de valores,
regras e opiniões fechadas que acabam por se tornarem prisioneiros de
suas próprias estruturas de comportamento e pensamento.São os
neurastênicos, adeptos a um único sentido de vida criado por eles e que
norteiam toda a sua vida baseados em seus pressupostos imutáveis.Bem,
uma certa dose de neurastenia paranóica é até salutar, visto que o
oposto, uma excessiva falta de padrões e opiniões caracteriza justamente
o que chamamos de um idiota completo, cujo hino é aquela velha canção
daquele barbudinho Hipponga de shopping center que clamava ser ‘’esta
eterna metamorfose ambulante’’.Sim, sim, senhores, muitas pretensas
libertações de atitude e comportamento nada mais são que franca apologia
à imbecilidade.

E como balancear esta neurastenia de padrões
fixos com um certo despredimento de valores? Ora, sei lá eu.O fato é que
todos estamos condenados a ter opinião sobre seja lá o que for,
principalmente sobre assuntos que não conhecemos, que sempre serão
maioria absoluta:quer seja sobre política,gastronomia, sexo, vestuário,
sempre estamos condenados a carregar bandeiras, sejam elas visíveis ou
invisíveis, estando sempre implícitas em nosso comportamento.Andar na
rua, se vestir, comer, etc, implica em revelar gostos, e ,portanto,
em revelar uma personalidade.Talvez mesmo as assim
chamadas verdades absolutas se circunscrevam a gostos particulares,
desde uma preferência por feijoada ou sushi ou uma preferência por
Nietzsche ou Kant.

Mas antes que me sobrevenham os elogios dos
relativistas e antropólogos que fazem pulular os discursos de
que tudo é relativo, devo dizer que sempre há um vencedor nestas
opiniões contrastantes.Esta história de culturas e verdades que se
complementam é balela.A arte e a verdade(melhor:o entendimento do que
seja a verdade) são fruto do conflito de idéias, de gerações,
de aspirações, de ideais.Nada se conquista pelo casto diálogo.A
imposição é sempre feita no tapa, quer seja pelo tapa simbólico ou real
mesmo.

Viver é brigar pelos seus ideais, por suas
convicções, mesmo que seja para provar que comida ocidental é bem melhor
que a oriental.Se há uma mistura aqui e acolá, é eventual e
esporádica.Bach não combina com candomblé e nem feijão com estrogonofe,
embora sempre haja excêntricos querendo provar o contrário.Pode haver um
respeito a qualquer manifestação de gostos e idéias diferentes dos seus
, mas sempre, intimamente, haverá aquela fagulha de disputa , aquela
sensação quase que instintiva de querer provar que seus gostos e idéias
são mais saborosos que os de outrem.Pode parecer exagero, mas este
embate é todo o princípio que forma a evolução cultural da
humanidade.

E portanto , para não me acusarem de pusilanimidade,
atesto aqui a superioridade da feijoada em relação ao sushi.E
pronto:deixo aqui minha contribuição pessoal ao processo evolutivo
cultural da humanidade.

  

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