Além
Poesia
Além
Esboços de uma teologia particular
Não é capricho meu, acreditem , mas uma necessidade
vital, visto que não consigo de todo expurgar meus fantasmas de
influências religiosas de minha infância.Sério, até hoje não consigo
evitar um certo sentimento de culpa por não mais frequentar missas ao
Domingo e pior:não consigo evitar uma culpa maior ainda por ter
frequentado algumas missas no passado só para ficar de olho em umas
menininhas que povoavam meu imaginário , ahn, digamos assim,
‘’pagão’’.Todo isto somado ao meu sentimento de ignorância por
frequentar estas mesmas missas e haver um dia acreditado que Deus era um
velho barbudo que compartimentava padrões e comportamentos em escalas
>
Bem, vamos aos princípios de minha crença, ou melhor,
de minha teologia : chupada em grande parte de minhas influências
cristãs, construí minha religião de uma maneira mais ou menos similar ao
cristianismo, com algumas dissonâncias e discrepâncias da carolice
tradicional.Deus é amor, certo? Claro, mas há que se perceber o que
exatamente é o amor.Se houve uma criação do universo, então lógico que
está embutido aí todo um ato de amor, como o amor de uma criança ao
criar um brinquedo, um jogo particular.Mas este amor envolve tanto
doação quanto contemplação um tanto mórbida, como quando uma
criança bota uns soldadinhos para brigarem entre si.Deus teria criado
tudo ao seu bel prazer,e, numa jogada de mestre, teria dado suposta
liberdade aos seus ‘’criados’’ de fazerem o que bem entenderem,
inclusive se matarem.Neste negócio lúdico, a liberdade foi
tamanha que foi criado inclusive o próprio alter ego
divino, o diabo(uma espécie de subconsciente ”sujo” de Deus, criado
por ele mesmo às gargalhadas), ou, mais esmiuçadamente, a ausência
divina, a ausência do amor, que é justamente a perda do sentimento de
complacência com o que nos envolve.
Este sentimento de complacência é o que definiria
este amor.Não só um sentimento amoroso piegas de doação, mas de entrega
absoluta ao que nos cerca, inclusive ao sofrimento.Sim, meus caros, amor
também pressupõe um sentimento de um certo masoquismo sofisticado, em
que você deve amar não só quem te ama e quem você já ama por
afinidades eletivas, mas também estar aberto e aceitar o
diferente,inclusive o chato do vizinho que gosta de pagode e axé
music.Deve-se amar , de maneira mórbida, inclusive a própria rejeição, o
‘’não- amor’’ daquela que o rejeitou.
Amor, amor de fato, é esquizofrênico. Senão, como
definir o amor de Jesus Cristo, que se deixou matar e torturar por um
sentimento de amor a todos e a qualquer um? O ícone do crucificado é
perfeito.O ser humano em seu esquartejamento metafísico, estirado para
os quatro cantos:para cima, para o que transcende; para baixo, para o
material, para os pés no chão, para a solidez pragmática de seu
amor sado-masoquista e prazeiroso; e para os lados, na forma de um
abraço complacente a tudo e a todos,um abraço ao mesmo tempo em forma de
doação e sacrifício, em forma de tortura e de prazer.E ainda querem me
dizer que o amor não é um sentimento sado-masoquista? Ora…
Pois muito bem, este mesmo abraço remete a um abraço que envolveria o
próprio corpo, uma vez que abraçar a humanidade inteira é abraçar a si
mesmo também.Deus seria cada um de nós, pressupondo-se que o sentimento
amoroso da criação estaria embutido em cada vontade, em cada desejo, em
cada acerto ou erro nosso.Adorar a Deus, uma entidade abstrata e criada
por nós mesmos, seria uma atividade de fundo narcisista, de
adoração a nós mesmos.Mas trata-se aqui de um narcisismo coletivo, sendo
que todos são um e um são(somos) todos.Então, o amor seria uma
sublimação da escolha, uma superação de preferências e uma aceitação das
diferenças e adversidades, sendo que esta aceitação não implicaria
exatamente em uma aceitação apática.Deve-se lutar contra a mediocridade
e as injustiças, mas deve-se ser complacente ao mesmo tempo com o mundo
tal qual ele se nos apresenta. Esta seria , no fundo e na superfície, a
vontade de nosso todo-poderoso, criado à nossa imagem e
semelhança, que em seguida nos criou para sermos seus- e nossos-
brinquedos a um só tempo.
Meu bem, meu mal
Muito em voga hoje em dia o discurso
acadêmico e pretensamente sofisticado de que não existe uma disputa de
bem e mal ou de que estes dois conceitos estariam diluídos entre
fluências, fragmentos em todos os aspectos de uma disputa, de um debate
ou sabe-se o que lá mais.Tudo muito redondinho no discurso, mas
abstração tem limite.Quando um bando de milhares de pessoas se coloca a
matar gente e destruir embaixadas porque ofenderam uma determinada
religião com ‘’charges’’, ainda será possível alguém levantar a bandeira
do ‘’relativismo entre bem e mal’’ , que diz que toda cultura
tem seu valor específico e que não existe uma cultura melhor que a
outra?
O islamismo , em sua essência , é baseado em
conceitos medievais, praticamente não adaptáveis às conquistas do mundo
moderno.O cristianismo e o judaísmo também têm lá seus
conservadorismos esquisitos, mas nem por isto cristãos ou
judeus saem matando gente e atirando pedras porque fizeram alguma
caricatura de Jesus Cristo ou de David.Sim, cristãos matavam gente
nas cruzadas na idade média e judeus não foram muito com a cara de Jesus
quando vivo, mas estes tempos já passaram, e o cristianismo e o
judaísmo se adaptaram- mal ou bem- às nuanças da modernidade.Aos
trancos e barrancos, cristãos e judeus-principalmente cristãos, que eram
mais pretensiosinhos- aprenderam o valor da tolerância religiosa, o
que não é o caso de enormes segmentos do islamismo.
Existem também os cristãos e judeus amalucados e
conservadores mas ao menos eles são mais discretos e guardam para si
sua psicose embutida.O que também não é o caso dos senhores extremistas
muçulmanos que saem por aí querendo que todos engulam sua verdade
religiosa à fórceps.Faltam a estes senhores psicóticos duas virtudes
eminentemente ocidentais:a tolerância e o senso de humor.
Não se trata aqui de culpar uma religião pelos
atentados que ora muçulmanos fanáticos inflingem ao mundo
ocidental.Aliás, ironicamente, ponto crucial é que parte da culpa
pelo horror que vem acontecendo recai justamente sobre o exagero de
discursos relativistas ocidentais de equiparação absoluta de valores
culturais entre os povos, eliminando justamente conceitos como bem e
mal. Ora,embora muitas vezes diluídos em determinadas circunstâncias,
bem e mal aparecem de maneira muito clara exatamente na maioria das
circunstâncias.Como, por exemplo, agora, quando um monte de doidos de
pedra(literalmente) ameaçam despedaçar a liberdade de expressão.E este
mal visível, escandalosamente visível, é, enviesadamente, ratificado
pelo discurso torto de que mal e bem são
sempre relativos.Aliás, a característica maior do mal é se esconder
em intermitências, ambiguidades e na imbecilidade travestida de
inteligência.Neste sentido, relativizando o concreto, pode-se dizer que
o ocidente, com seus excessos no discurso sobre
tolerância, forneceu as bases do sofisma apreendido pelos islâmicos
fanáticos.Estes descobriram na tolerância ocidental um sinal de
fraqueza.’’Já que os ocidentais nos toleram tanto e com tanta paixão,
vamos atacá-los, ora…’’,devem pensar.Disse sofisma? Talvez nem tanto.É
sutileza intelectual ocidental demais para este grupo de islâmicos
doentes.É covardia e primitivismo mesmo.
E chegamos aqui à origem do mal: a
ignorância.Ignorância de alguns(alguns inúmeros, diga-se) muçulmanos
primitivos e a ignorância ou ingenuidade latente de alguns acadêmicos
que, sem perceberem, encorajam a fúria do primitivismo.Para estes
últimos , talvez fosse interessante que ministrassem uma aula de
relativismo antropológico em Teerã, dizendo que bem e mal são
absolutamente relativos.Seria bastante interessante, ainda mais
levando-se em conta de que a maioria destes acadêmicos(principalmente os
antropólogos) já parecem uma caricatura viva de maomé…
Os apetites de Janaína
Nem tudo pelo social
Tudo pelo social, menos a arte, por
favor.Pelo menos não em tom assistencialista.Arte não presta
assistência, antes pelo contrário, serve para confundir mais ainda as
coisas.Ritmos estrambóticos que agoram empunham a bandeira da união
social deveriam ser banidos por atentado ao bom gosto.Excrescências como
Hip Hop, Funk carioca, RAP e subgêneros.Ah, e não me venham com este
patati patatá de que gosto não se discute que eu não sei fazer outra
coisa melhor senão discussão de gosto.Toda esta fila de mamulengos que
enumerei é mortalmente ruim mesmo:as letras são patéticas, a melodia
inexiste, o ritmo é chato e aborrecido.Na somatória do mau gosto, tudo
se perde, menos os tímpanos em sofreguidão.
Mas análise estética deste tipo de ‘’música’’ não é
meu propósito e até seria covardia fazê-lo aqui.A nhaca é que toda esta
ruindade estrondosa agora vem com o selo de ‘’socialmente saudável’’.Uma
maneira matreira , engenhosa e politicamente correta de embalar
porcaria com papel celofane, que o povo acha que é chique.A notória
porcaria envolta em um discurso de libertação e união das
comunidades.Libertação diretamente importada dos ‘’ianques
imperialistas’’ que as >
Triste sina de um país que outrora mantinha o posto
de maior celeiro de música popular do mundo.E não, não falo do Brasil,
falo dos Estados Unidos.Um país que já cultivou talentos como Cole
Porter, George Gershwin, Billie Holliday e tantos outros agora só
exporta cocô musical.Algum cocô pop é deletado pela intelligenstia
brasileira.Outro tipo de cocô, o tal Hip Hop e suas variantes seguem
reforçando o discurso da banda podre da tal intelligentsia tupiniquim:a
aqui já citada esquerda festiva.A diferença é que lá nos EUA, os ‘’Hip
hoppers’’ cultivam o dinheiro, a cafetinagem, a vulgaridade, a
prostituição e a bandidagem como meio de subversão social.Rebeldes
integrados, those boys… E aqui, como bons e tradicionais brasileiros,
nossos hoppers não cultivam nada a não ser o barulho de sua própria
estupidez.
Mas a coisa vai ainda mais longe.Dia destes, aqui em minha
provinciana Belo Horizonte, um deste grupos de Hip Hop resolveu adestrar
policiais de uma favela e ensiná-los a tocar tambor para fazer uma
espécie de grupo de percussão para se integrarem aos membros da
comunidade.Não é uma tetéia? Já que policiais são despreparados, não
sabem defender o cidadão, que os botem para bater lata.É, como diz o
famigerado e politicamente correto discurso da intelligentsia da
esquerda festiva, ‘’a arte integrando as mais diversas tribos’’.A
pergunta é :que arte? E se são tribos, então que fumem um cachimbo da
paz quietinhos, em silêncio, sem conspurcar o nome da arte no meio do
negócio.