2009-03-01 03:55:00

       
  

Sem musa

Canto em silêncio o que não sei cantar
Canto o voo sem asas do sobrepeso do nada
a incensar o berro incontido da impossibilidade

Canto aquém de mim
o que poderia ser
a música insciente
do que me supera e me atravessa
o som dos ouvidos surdos
que aplaudem meu fim

Canto por fim o princípio do cantar
que é dizer ao léu
gradiloquentemente
a mudez da sobrevida
à luta perdida

que se ganha porém à margem do eco
destoada do coro consonante
da profissão de vozes uniformes

Canto o amador que ama torto
o canto trespassado pelas vaias do mérito
Canto o improviso sublime
do ensaio do despreparo.

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