2009-05-18 10:32:00

       
  

Feliz

De onde vem este sopro frugal
a macular minha doença?
Que verso compassado é este
que desalinha minha encruzilhada?

O esboço do corpo inviável desaba
ao toque estéril da alegria primeira

Ora virulento, o afago da felicidade
não mais se coaduna
ao sentido torpe de desvio
batizado por meu tempo

Protesto contra toda beleza
que, injusta,
corrói o bem comum,
esquartejado pelo desejo

Protesto contra o ego,
este que agora me encima
e me embrulha
oferecendo-me à doçura nefasta
de minha complacência

Protesto contra o êxtase,
que estupra meu sono

Protesto contra a plenitude,
que me arranca de meu beco

Mas meu berro não reverbera aos meus ouvidos
que só ouvem
o surdo som de meu sorriso.

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