2009-08-10 01:14:00

       
  

Dois poemas

À ESPERA

 

Desde sempre, ainda te espero

quando tua ausência já se firmava

e fincava a esperança da morte de nosso abandono

 

Te espero continuamente

desde antes e depois

da espera de caminharmos juntos

não um caminho contínuo

mas um emaranhar de passos entrecruzados

desencontrados no encontro desesperado

de nossas encruzilhadas

 

Te espero no retorno

do que não foi ou será

mas na volta cíclica do que é

ou de além do que venha a ser

na perene presença da ânsia

na vinda eterna da descoberta sacralizada

na memória brutalmente onírica do instante

que arrebenta a fome do toque esperado

que inviabiliza o tempo

que implode a espera

e que revela tua presença atemporalmente

mais próxima

do que jamais conceberá a distância

 

DESAFORO AFETIVO

 

Não mais possuo os restos vivos

do teu desejo fabricado pelas circunstâncias:

é de outro hoje e sempre por enquanto

teu corpo materializado pela perda

Mas ainda sobrevive, impávido, o vislumbre constante

das tergiversações de teus (des) propósitos

 

Meu chão renovado é a tua impermanência

onde me aninho no ventre prenhe de tua incerteza

Meu esteio é o contorno infantil

de teus lábios crispados

em tortuoso  irônico pretenso sorriso vitorioso

 

a zombar-inadvertidamente ambivalente-

insciente de teus tropeços calculados

e da urdidura de tuas quedas

 

Meus afetos sinceros

vão para teus nossos projetos previamente destroçados

onde e quando então, de nossos pedaços misturados

recolherei fragmentos

da memória de nossos corpos unificados

 

e erguerei a estátua de nosso assombro despedaçado.