2010-07-29 03:48:00

       
  

Koussa

Não te vejo
mas te sinto onde te invento
bricolada na intenção do desejo

Não te sei
e sorvo o naufrágio do descaminho
de teu norte desorientado
onde me abandono e me perco
à margem do esboço do teu corpo
criado ressucitado
à imagem e assimetria
de meu fim e recomeço
onde
por nada mais a perder
busco o ganho da perda
do que não te foi encontrado

no entanto e além
não te perco
porque te toco na ausência escalpelada
de tua pele
que acalenta e reveste
meu corpo incompleto.

2010-07-15 00:37:00

       
  

Posses

Tudo que ousei não ter
sempre me pertenceu,
mais ainda o que me perdeu:

por direito e por avesso
foi meu
o grito preso
que não aconteceu
ecoado na memória do esgotamento
escoado no som oco do lamento
incrustado no corpo
pertencido e perdido
na lembrança
do que não ou quase fui

Mas ainda sou- incompletamente-
eu-
a mim não pertencido
por mim vencido
pelo que me oprime e me imprime:
ganho de posse do que nunca sendo
enche o fosso do tempo negado
sempre e novamente evacuado
furtivamente se oferecendo

Tudo que ousei não ser
sempre me valeu
mais ainda o que me venceu:
encontrado no perdido
hei ainda de possuir
minha reinvenção 
no desacontecido –
minha ruína a se construir.