2011-01-08 03:37:00

       
  

Entregue

Aqui me tens como queres:
ressonância da voz de tuas contraditas,
sombra do avesso da troca de tua pele
cuja tessitura ressuscita e regurgita
a proteção anfíbia das velhas dobras
de teu corpo exausto de atávicas certezas

Aqui me tens como quimera:
desejo postumamente postergado
do que quisera vir a ser
na projeção do olhar de outrem
e em já não sendo ou vendo,
por preguiça de estar a ser
à margem de outro
e por não ver
além e aquém
deste estrabismo em comum,
aqui me vês como cegueira

Aqui já não me sentes
porque aqui já se perde
em ubíqua tormenta deste agora perene
que dispõe dos lugares
que nos enfia
para fora
da possibilidade de nós mesmos.

Aqui me lembras como serias
na amplidão do espaço infenso
ao catre do ideário
do corpo de seus espelhos
,entregue às margens
que esquadrinham o deleite do teu sono
e descortinam os arredores
da descoberta tátil
do teu reflexo

Aqui me abandonas descoberto, nu,
líquido em múltiplas imagens
que evaporam à truculência da luz.