2011-03-31 15:05:00

       
  

Porque

Porque já não respondo por minhas respostas

por não questionarem o afeto de minhas razões

porque respondo por me esquecer

de perguntar à pergunta

a natureza de sua intenção

 

Porque já não contesto o vazio

que acalenta e aninha minha dor

como um ungüento a anestesiar

o que por criado ao vazio retorna

recriado por outro caminho

percorre a gênese do alívio provisório

que apascenta a culpa

do meu tédio evacuado

que  fustiga a pele anfíbia

do questionamento refeito

à maneira de um reflexo

refletido ao avesso de sua reflexão

 

Porque já não aguardo pela eternidade

e antes me ocupo de um breve instante

que me vale e traduz o tempo  escoado

pelos cantos de um sentimento colado

ao pé de sua fábrica malemolente

que rebola ao ritmo incessante

de sua recorrente subversão

obstinada em cravar a perda

que define o ganho da carne

que reveste a minha sombra

 

 

Porque já não pergunto à resposta

o que define o molde de sua obra

que resta imprecisa, aberta

ao esboço da pedra rudimentar

à espera da mão que será moldada

pela escultura que a redime.

2011-03-15 01:10:00

       
  

Conselho ressurrecto

Não retornes, Lázaro, a esta doença
não tornes a abandonar o conforto uterino
que acalenta o sonho que exaspera a fuga
de onde vive o fim do desencanto

Não entornes, lázaro,
a dádiva de um provisório fim
pelas valas tortas de uma recidiva pergunta
que, por incessante, não vale o sabor do silêncio
a consumar o princípio do vento

que acaricia a perda
e cobre os frutos da memória
desdenhando os caprichos do tempo
incrustados nas mágoas da tua carne
e nos membros perdidos de tuas intenções

Não percas, Lázaro,o milagre da perda
que restaura a edificação de teus anseios
que retorna a encruzilhada dos lugares
que redime o objeto dos olhares

Não te deixes levar, Lázaro
por duvidoso milagre ressuscitado
de vozes não ouvidas
e nunca esquecidas

porque morte não há
onde dúvida é perene.