Porque
Porque já não respondo por minhas respostas
por não questionarem o afeto de minhas razões
porque respondo por me esquecer
de perguntar à pergunta
a natureza de sua intenção
Porque já não contesto o vazio
que acalenta e aninha minha dor
como um ungüento a anestesiar
o que por criado ao vazio retorna
e recriado por outro caminho
percorre a gênese do alívio provisório
que apascenta a culpa
do meu tédio evacuado
que fustiga a pele anfíbia
do questionamento refeito
à maneira de um reflexo
refletido ao avesso de sua reflexão
Porque já não aguardo pela eternidade
e antes me ocupo de um breve instante
que me vale e traduz o tempo escoado
pelos cantos de um sentimento colado
ao pé de sua fábrica malemolente
que rebola ao ritmo incessante
de sua recorrente subversão
obstinada em cravar a perda
que define o ganho da carne
que reveste a minha sombra
Porque já não pergunto à resposta
o que define o molde de sua obra
que resta imprecisa, aberta
ao esboço da pedra rudimentar
à espera da mão que será moldada
pela escultura que a redime.