2011-05-30 14:35:00

       
  

Fugir de si

Fugir de si 
é tarefa inescapável
nem tão hercúlea 
mas quase inelutável

Prender-se à sombra
do que de si se espera
é forçoso caminho
à complacente quimera

Mirar-se à margem 
do que de si se inventa
é ater-se à sombra
do que de si se tenta

Fugir de si  dá-se no avesso
do corpo em consonância ao tropeço
que a cair, por pulsão se levanta
ou por cotidiana morte, se agiganta

Escapar ao revés da fértil criação
que por criada se reproduz em máscaras
a esconder um rosto em furtiva traição
ao concreto que se quebra em cascas

Fugir de si em direção ao outro
ao encontro de outra invenção
fugir de si em fuga à resposta
Como resposta à responsável prisão.

2011-05-16 15:18:00

       
  

O que, onde, quando

No sentido, me perco.
Me extravio
na premissa do significado.
Agonizo na intenção
da memória do amanhã.
Tergiverso
na recondução ao esquecimento
e me esgoto na permanência.
Quando sempre, estou efêmero.
Quando nunca mais, concebo
a pretensão do meu parto.

2011-05-12 14:24:00

       
  

Em nome de quem

Orai uma prece atéia
pelos que têm sede de além.
Clamai pelo desnudamento
da carne da transcendência,
que conspurca o milagre da matéria
e avilta a encarnação da perda.
Santificai, pois,
a palavra muda que dispersa
a autoridade dos sentidos.
Tocai, de joelhos,
o chão do teu céu,
engolindo a epifania do teu esquecimento.
Comei e vivei
pelos famintos
do despojamento do tempo,
roçando a língua dos teus,
nossos sabores.
Comungai tua mensagem
no silêncio compartilhado
do nosso abandono.
Saciai o espírito
pela fome de toque.