2011-11-27 02:50:00

       
  

Aquela que se foi

Aquela que se foi não manda lembranças
Antes permanece como ausência tátil e consentida
entre o afeto deslocado e a memória do que poderia ser
Aquela que nos deixa permanece
próxima e distante como o conceito de humanidade
que abraçamos com complacência simbólica
e torcemos com retórica furtiva
coletiva em seus múltiplos desvios
que se distribuem e se destituem
no discurso que a define e perde
Aquela que se perde se ganha
na volta do que não se fecha
do que não morreu a tempo
de nos deixar inteiros
em nosso abandono incompleto
Nós, que não fomos
que exasperadamente não nos abandonamos
voltamos sempre-por distração do tempo
para aquela ou o que quer que seja
que se perde no caminho.

2011-11-01 06:09:00

       
  

Quod erat demonstrandum

Nomeamos- por indizível- o que não nos cabe
Onde não há objeto palpável,
tateamos a criação de uma intenção
Quando dizemos amor, ódio,vazio, tudo, qualquer
dizemos corte
do que nos cabe em nossas frestas
por onde sopramos nossa voz descabida
a fim de estabelecer o espaço de um eco
que flertará com o elo de outro sopro
a ecoar um desencaixe desmedido

Tateamos descabidos nosso cabimento
na nomeação que nos tatuam:
quando dizem Jorge, Patricia, dizem alguém
mas não algo do que somos
ou projetamos ser pela nomeação de nossos sentidos
Quando dizem nós, dizem ninguém
quando nós entrelaçados somos a corda esmaecida
a amar o repuxo atrevido da refundação de outrem
em nodosa reprodução desassistida
pela força centrípeta do esforço de um toque

Embaralhamos, indevidos, a poética de nossa desnomeação
onde quando, por sem opção, lambemos a cria
do batismo de nossa escolha
-corte do cordão do embrião multivitelino –
que nomeará a gênese cartesiana
de nosso parto atemporal.