2011-12-22 04:03:00

       
  

Um corpo à espera de uma eutanásia ou possível ressurreição que seja

O corpo permanece vivo
em lânguida morte que o espreita, adiada
Semi-estático, o corpo ainda responde ao toque:
pulsão da lembrança de um desejo da intenção de uma resposta-
que não virá, antes pela indefinição de uma pergunta
e ora pela fadiga tátil da procura
O corpo ora adormece, ora se exprime
em espasmos de tédio e espanto
por não se perceber ou não se orientar
nos modos civilizados de seus usos e desusos
Por ora, o corpo se abusa de seus usos devidos e indevidos
O corpo não se deve nada que não seja
o devir de uma longa aprendizagem não concluída
e ainda não devidamente iniciada e sempre e ainda recomeçada
que se posterga para além de seu fim
Póstumo, o corpo realiza sua transcendência
em sua convulsão articulada
que deixa convulsionados os movimentos
e afetos de corpos ainda socialmente móveis e moventes
que adornam a patologia do ansiado paciente
cuja impaciência explode para fora da sua intenção esmaecida
para fora de sua consciência exaurida
para fora da vontade dos que o guardam, embalam e o esperam (onde, como, por que?)
O corpo se mantém vivo artificialmente,
com a ajuda do artifício dos que o esperam
Os corpos que o observam mantém vivo
o artifício do cuidado com que o percebem
-e não o explicam
e se mantém vivos, também, por ora e sempre
com a ajuda de algum artifício
em lânguida morte que se espreita, adiada.