O sangue corre
O sangue corre
nas veias do paciente terminal
em direção ao que não espera
em ritmo ordenado
O sangue escorre
nas mãos do assassino
coagula
no medo da doação
deságua, lívido
na curva da história
e não mancha
os dedos de quem a escreve
O sangue estanca
no cadáver da vítima
que se vinga, imóvel
da circulação sanguínea
desnorteada do tempo
segue
a arritmia de um coração impreciso
(metáfora viva carcomida pela
anêmica pulsação do uso)
De sangue roubado
se alimentam vampiros imaginados
e reais imaginários desumanizados
No sangue
e em outros líquidos contaminados
sobrevivem
vírus parasitários
e outros sobrevivos condenados
De sangue
se enche uma ereção
eivada de excitação
ou da fome de desejo
fabricada
por uma química ação
Sem estímulos
-reais ou forjados-
pelos vasos capilares
dilatados da sede
não corre o sangue
Assim o sangue jorra
nas veias abertas
do vivo suicida
e para, eternizado
no fluxo contínuo de
quem sobrevive à intenção.