Conselho
Você, que se aproxima
Não confie em mim
Não confie também em sua desconfiança
que se reconhece em seu reflexo invertido
Não se fie sequer em afastar-se
da inescapável aproximação de outro próximo
equidistante entre uma boa intenção desabável
e uma desverdade assegurada
na confiança de uma criação
que acompanha sempre sua solidão
Você, que se afasta de mim
não confie em si
Aproxime-se indevidamente
da também inescapável entrega
ao que e quem você não sabe
nem jamais saberá
tateando seu tato sem objeto
criando o corpo imaginário que toca
com seu desejo, intenção e desconfiança
Você, que por aproximação
tenta ausentar-se de si
confie na fuga em direção ao próximo
mesmo que a distância esteja sempre perto
presente e desconfiada.