2013-12-06 13:35:00

       
  

Vir a ser

Quando vir a ser quem eu quero ser,
quererei então ainda ser o que quero ser hoje?
A culpa do que não me fiz ontem
se redime por ser eu hoje
o que nunca imaginei ser antes?
Serei eu amanhã
a vontade morta, póstuma
do que quis ser hoje?
Prescreve um crime pelo tempo do ato
Mas onde jaz a culpa do tempo de sua intenção?
Não prescreve o crime
pelo remorso do criminoso
Prescreveria a intenção
de querer ser eu
algoz do que sou agora
quando logo mais
nada mais quererei
do que deixar de querer ser
tudo além do que jamais fui?
Quando, pois, deixar de querer ser
tudo o que quero e quis ser
serei algo mais do que quero
e contrariado,
quererei algo menos do que sou
Onde e quando digo que sou, fui, serei
deixo de ser
Sou apenas
quando de mim me escondo
e a mim me traio,
não me achando.