2014-01-09 10:24:00

       
  

Distração

Amputando-me, me distraio
Um membro de cada vez:
um olho, uns dedos, um braço, alguma certeza,
alguém,um sonho póstumo, outro e qualquer desejo
mal colocado na anatomia das perdas
Perco até a cada dia
o que não me foi ganho diariamente;
me desfaço mesmo das próteses:
um novo nariz de cera 
ou nova intenção não encaixada
à resposta de um corpo externo
Vou aos poucos cortando os pedaços
e sombras do que não me fiz
até me distribuir devidamente fatiado
ao paladar insípido do açougue das perdas
onde me consumo e me devoro
como tumor maligno
que ganha vida e se espalha
destruindo o corpo em que habita.