Sorri na carne a cicatriz
Sorri na carne a cicatriz
lânguida, horizontal, irregular
a zombar da sólida e frágil composição
do corpo que a abriga
Sorri, abocanhando a suave textura
da pele que implode
com seu sorriso sem dentes
Sorri da carne a cicatriz
sorri de sua morada breve
eternizada no momento da mágoa
que a habita
Mesmo removida por plástica, tempo, afeto,
segue sorridente a cicatriz
por se saber póstuma ao seu fim
por se saber parte atemporal
da anatomia do tempo
ungida já no nascimento do corpo
corpo que não se fecha à sua mácula e chaga
corpo que nunca se fecha à ferida aberta
de sua ressurreição nunca cicatrizada,