Padeço do que desejo
Padeço do que desejo
O que quero me esmaga
e me embala
no inferno que me sustenta
Padeço do que desejo
O que quero me anula-
negando-se,criando o embrião
póstumo de sua falta
ofertando-se, corroendo seu valor
na volúpia da posse tátil
do que deixa de ser ao toque
Agarro-me , pois , à ausência fabricada,
acariciando, moldando seu corpo
à imagem e semelhança
do vazio impresso
que preenche o que não alcanço,
tateando o desenho febril
do avesso da vontade criada,
ressuscitando a criação
para que eu me reconheça
como a cria
de um desejo maior
que me transcenda
Padeço do que desejo
-e me curo em sacrifício
lançando-me ao abismo
da doação sem causa,
ao abrigo do céu
que espelha minha queda.