2014-08-28 16:34:00

       
  

Desabitação

Mora no abandono
uma ausência tátil
que jamais se despede
Habita no que me deixa
um desejo de desencontro
comigo, alguém algo
que por nunca inteiramente achado
jamais fora perdido de todo
a fim de que alguma encruzilhada
rompa a falta de um fim
Caminho no que me é distante
abraço o que me é ausente:
o que me falta me revela
Desabitado por perdas movediças
me abandono à construção etérea
do esboço presente
da minha ausência abandonada
( esta que nunca me deixa só).

2014-08-08 15:00:00

       
  

Milagre

De tempos em tempos, necessita-se um milagre
Algo a ser visto, mostrado, não por sobrenatural,
mas por algo que toque e desvele a natureza mesma,
por onde ela se esconde na miséria de sua invenção
De tempos em tempos, um milagre:
um gesto, humano e natural que seja,
que resgate, por um instante,
( que embale a eternidade)
um corpo que cai em irreal realidade
De tempos em tempos, um milagre que nos veja
e acaricie os olhos vedados
de nossa cega mortalidade
Em tempo, um milagre,
para que enfim se veja
que milagre é todo tempo
que esculpe uma verdade
Milagre que revele
nossa transcendente humanidade.