Utopia do futuro do pretérito
Em algum lugar, encontrar-se com o encontro que não houve,
abraçar o corpo etéreo e tátil de um ideal não consumado,
abraçar o abraço extático, suspenso no hiato de uma intenção
Tocar o hiato, tornar o intervalo uma ação da memória
de um futuro impossibiltado pelo tempo perdido
Alargar o intervalo, o trágico intervalo entre um princípio
que se desdobra em um quase sempre ou um sempre jamais
Até que se expanda ao infinito o vácuo de uma palavra,
de um gesto semi-realizados
Até que se toque a palavra não dita,
até que se grite e se devore
o gestual da negação de um gesto
no ínfimo momento de uma memória eternizada,
fossilizada no ato de um quase.
Ou até mesmo que se engane a desmemória
do que jamais foi nem jamais seria,
porque o engano também se engana
na sua intenção idealizada.