2015-04-27 13:23:00

       
  

Utopia do futuro do pretérito

Em algum lugar, encontrar-se com o encontro que não houve,
abraçar o corpo etéreo e tátil de um ideal não consumado,
abraçar o abraço extático, suspenso no hiato de uma intenção
Tocar o hiato, tornar o intervalo uma ação da memória
de um futuro impossibiltado pelo tempo perdido
Alargar o intervalo, o trágico intervalo entre um princípio
que se desdobra em um quase sempre ou um sempre jamais
Até que se expanda ao infinito o vácuo de uma palavra,
de um gesto semi-realizados
Até que se toque a palavra não dita,
até que se grite e se devore
o gestual da negação de um gesto
no ínfimo momento de uma memória eternizada,
fossilizada no ato de um quase.
Ou até mesmo que se engane a desmemória
do que jamais foi nem jamais seria,
porque o engano também se engana
na sua intenção idealizada.

2015-04-05 19:25:00

       
  

Anti-jogo

Socar o muro que me cerca
até que o sangue escorra
da carne lacerada
pela fome do toque de um outro
Vencer-se, por alguém, para alguém.
por todos em um só,
até que a mais sublime derrota
cubra de louros
uma vitória cega e complacente
a quem te esmaga
Reter a corrida, quedar-se ao chão,
ser o chão que acolhe os passos
de quem pisa sua possibilidade de céu
Erguer-se na queda, aninhar o soco
que acaricia a pele do perdão
e rompe o muro
Ser muro. muro que impede
a vitória sobre toda forma de doação.