Por amor, se cria, se concebe o zelo.
Por amor, se engana, se ama o ódio
Amor se turva em seu conceito e toma a forma do que ama
Amor se fecunda
em sua metamorfose permanente
a fim de sempre ressurgir de outra forma
fugindo ao instante de seu encontro
vivendo o instante de sua morte
a fim de sempre ressuscitar outro
pelo mesmo apelo de se amar sempre.
Ama-se, por sem opção, a vontade de amar,
na ausência, distância ou indiferença.
Ama-se o que anula o amor,
porque amor repara sua anulação e destrói
toda forma de não amor por não admitir contrário
mesmo em seu pretenso avesso, o ódio enganoso.
Amor não é puro
não se purifica
não traduz o que ama,
antes confunde sua desnatureza.
Amor se liquefaz no corpo do que ama,
se traça no desenho móvel de um gesto
por vezes avesso a seu intento
por vezes nunca efetuado
sempre visível
sempre transformado
na memória criativa do que ama.
Amor se derrama nas múltiplas versões
do que se diz ser amor
e não se concebe engano
ou vontade incondicional de amar.
Mas Amor se condiciona engano
que nos salva
de um acerto equivocado.
Amor se ama torto sem razão
desnudando a razão
de seu caminho frágil
rumo à queda.
Por amor se cai ao alto.