Nenhum crime há de impedir o assassinato do ódio
que se aborta como honra amorosa ao odiado
Morte alguma há de abortar
a gestação de uma criança
-assassina ou santa-
em seu futuro.
Nenhum tempo
futuro passado ou presente
nos desterra do compromisso inadiável
e atemporal com a eternidade.
Nenhuma indiferença resiste ao toque
– carícia ou agressão –
que desnuda a pele do nada.
Nenhum desgosto obstrui o gosto
de lamber o paladar do sabor desconhecido.
Desilusão alguma ilude o sonho palpável
de algo sempre mais do que sonha a lógica
dos afetos impossíveis.
Cegueira alguma
cega a visão de dentro
que tudo enxerga
no que os olhos enganam.
Todo tropeço
desaba ao passo seguinte
da reerguida
de um corpo afeito
à sua queda mais elevada
que cicatriza e sorve seu abismo.
Morte alguma nos cura da vida
esta doença que nos mata e eleva
para aquém de toda proibição
para além de toda promessa.