O cadáver insepulto

O cadáver insepulto anda pela sala
deixa seu rastro indelével pelos cantos, cômodos
passeia pela cidade,marca o país com seu cheiro.
Por se tornar cotidiano,não se faz perceber.
Antes, apodrece os ares com sua pretensa ausência
que se faz presente nas narinas pele corpos
de quem de o já haver entranhado
dele se reveste e se cobre
amaldiçoando o peso
de o carregar e não o ver
abaixo de sua sombra.

O cadáver já mora em nós
que não o matamos
por fingirmos não enxergar a morte diária
que nos absorve a morte diáfana
que encanta – e engana- nossa vida
e cobre de epifania
o desejo de nossa cegueira.

Não matamos o cadáver
por medo de matar a morte que sobrevive em nós
como um placebo que nos cura
da doença miraculosa
da fome de viver
para além de nossa morte
que nos habita provisória
até que ela desencarne de vez
– da nossa criação.

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