Sei quem sou.
O desconhecido íntimo que sonho ser.
Sei do medo e do tédio que me salvam
do heroísmo que anularia minha queixa
de não me tornar o que quero.
Sei dos disfarces que uso que revelam minha nudez
que revelam o vazio das coisas que revestem
o que talvez nem queira
por saber de minha ignorância calculada.
Sei
de cada pensamento emudecido
de cada palavra desejadamente
solta ao léu
de cada ato atado pela ação
de meu sono consciente.
Sei também
por onde me ultrapassar
na ação de desvio dos atalhos
que me perdem de um outro.
Sei das mãos de um outro
– cego de si-
ciente de si-
que se conhece tão bem como eu,
sei destas nossas mãos cegas
que nos conduzem em comunhão
a um caminho de quem somos.
Sei da estranheza anônima
dos pedaços que compõem minha incompletude.
Sei da raiz
com que falo de mim
Sei da raiz
que fecunda em mim
através deste pedaços meus conhecidos
um eu
aberto à sua
-nossa –
multiplicação.
Sei quem sou.
Sei além do que sou.