Você foge.
Corre em direção à fuga,
à fuga se aprisiona,
escapando à escolha
de possíveis prisões móveis
que te obrigam à liberdade.
Foge do que quer e ama,
por saber em fuga de si
do que quer e ama.
Foge do que quer querer
e amar,
por não se saber.
Você foge.
Foge em direção à fuga,
que lhe escapa.
Forma
Eu te amo.
Talvez seja uma mentira.
Uma circunstância enganosa.
Mas me esforço em me esquecer
de toda verdade
que não tem a graça
de querer te amar.
Talvez este engano consciente
que engane
uma inconsciência não amorosa
seja a forma definitiva de amar.
Eu te amo:
plenamente
a cada talvez.
Conversar, contestar, rebelar, ordenar
Pela ordem
algo de racional desordem
que apele e conteste
os limites da razão.
Pela ordem,
a conservada desconfiança
de uma permanente revolução
que conserva o espírito
de sua ativa e insidiosa
inação.
Pela instituição,
seu racional e íntimo
oposto:
a sempre e necessária bárbara
reinauguração de humanidade,
este conceito primitivo
quase sempre em extinção,
primitivo humano lapidado
que gera civilização,
à espera ativa de algo mais,
alguma consciência ativamente ingênua
pela ânsia de redenção.
Por lei,a espera tácita
de sua quebra
quando a lei quebra
o ideal de sua ação.
Pela ordem, algo de racional desordem
que apele ao progresso
ou melhor, superação
de uma limitada razão.
Busca
Algo-
ideia, coisa, alguém-
tão perto do toque
que foge
que se esconde em sua sombra
que se desfia e se desmembra
em mil possibilidades de luz
que me devoram em trevas
que cegam minha busca
Eu-
que me vejo no espelho
e toco o aço do reflexo estéril
do que não sou
toco a pele inexata
do teu corpo
(ideia, coisa, alguém)
buscando desesperar
em busca de uma busca
que não se acha
Eu
que persigo algo – alguma busca
até perder o caminho
do regresso a mim mesmo
peço menos que algo possível
menos que o necessário
peço algum desencontro tátil
que descortine a volta
para a possibilidade
de mim mesmo.