Abandonado o ventre,
o filho começa a caminhar
o aborto cotidiano das perdas:
aprende a perder o conforto uterino
para se doar enquanto vida
e promessa de amor pleno,
porque justamente desarticulado,
infenso ao conceito amoroso,
que sufoca e confunde o amar.
Aprende o filho a expressão da fome:
do leite, do afeto, do toque.
Aprende a mãe a saciar a fome
de sua parte apartada.
Aprendem juntos, mãe e filho:
amor se aprende, se perde e se ganha
na separação dos que se amam.
Abandonado o filho
ao ventre de sua liberdade.
a mãe reconhece no feto adulto
a fome do amor que nunca se aparta:
o trabalho de parto que nunca se acaba.