A vida não se esgota
nem na ânsia que quer seu fim
que principia seu eixo
de sentido sem rota-
a vida brota
da morte provisória
de sua queda cotidiana
Não se esgota a vida
em apetites que se nutrem
– verdade, beleza, felicidade-
quais fomes que se devoram
em sua insaciedade
e te fazem querer sentir
o paladar do que te engole
Não se esgota o desejo
na pele de um corpo
que quer tocar a sede
de uma beleza que jorra
para além do que a fome implora
Não se esgota o espírito
que se quer corpo, carne
para aquém do além
que o escora
Não se esgota a ideia
na ação que trai a intenção
Não se esgota a traição
fiel à dissolução
do real que se derrama
e evapora
chovendo impermanente
promessa de aurora.
Transborda a vida
por todo onde
vida não se contém
por fugas se esparrama-
por impossível
a vida aflora.