Preso ao que não fui
percorro a cela da liberdade
de um eterno onde poderia ter sido:
não como um não lugar estático
mas como a pena a que me condeno
de me mover empurrando as grades
com que me cerco
para outra prisão móvel
na tentativa exasperada
de ser mais do que sou.
Cercados pela tortura do que não existe
torturados pela mágoa do que deixou de existir
apanhamos o gesto assassinado na intenção
e nos tocamos
através das grades
com que cercamos
nossa libertação.
Quase:
o nome da condenação
que nos redime
por querer sempre além
do pretenso fracasso
que nos empurra
para a comunhão.
Presos os que creem
ter chegado a um lugar.