Outros vícios

Há os que preferem vícios lícitos
mas não menos letais:
como Vida, este apego a algo
à falta de outra opção mais clara
Como amor, esta dedicação extenuante
a desgastar seus empregados
cujo salário se desconta quase sempre
em incompreensão e indiferença
e se renova no lucro do gozo
insondavelmente imperecível.
Há quem se entregue ao trabalho,
esta laboriosa diversão de se esquecer
e devorar o tempo
em nome de um valor para além do ócio
de tentar qualquer outro prazer.
Há quem se vicie em verdade,
produto não só escasso
mas nunca puro em sua forma,
droga criada
para anulação de sua criação:
efeito colateral
de sua própria crença,
ou de sua descoberta-
indiferente
a outras variações do produto.
Há os que se viciam na humanidade,
causa perdida que se resgata
na esperança de um caminhar mais junto
em direção ao abismo.
Há os que esperam a esperança,
vício que não se esgota
mesmo com o tempo
que a esmaga e não mata,
a despeito de toda morte.
Há quem em nada se vicie:
para este,
não há remédio ou virtude
que sacie sua falta de apetite.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *