Sobre tudo

Não só o que foi feito não se desfaz
como o não feito não se refaz:
a palavra perdida, a ação omitida
jamais se perdem na ação omissa
que finca no tempo sua tatuagem
do nada
que desenha na carne
sua cicatriz do esquecimento
que se lembra de si a todo instante.
Nada nunca é perdido
na corpo coletivo
da memória que paira acima
do escondido:
teu gesto de recusa é aceito
para sempre pelo testemunho
das pedras, da falsa indiferença
pela presença de um silêncio
que sussurra um berro incontinente
em alguma consciência
que ignora teu olvido.
Tua justiça calada
é ouvida
pela voz que ecoa
o apelo de sua consciência
o apelo de tua transcendência
para algo além da falsa ausência
que a acompanha
que te acompanha.
Teu amor ignorado
ou tua ingratidão
ao amor ofertado
são para sempre lembrados
pela história de uma íntima
solidão coletiva
que povoa cada tua ação
cada tua intenção.
O que foi jamais retorna.
Mas o que é jamais se esgota:
um erro se faz mais acertado
pela lembrança futura
de um acerto ainda
nunca de todo consumado.
A imperfeição nos sublima.
Nada, nenhum ato, omissão, pensamento
nem ninguém
jamais estão sós.

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