Amo todas as aparências
com pavor amoroso
às pretensas evidências.
Amo, desconfiado do meu amor
à substância
e odiando a desconfiança
que me impede de tocar o fundo
do que no fundo não quero achar.
Amo as aparências
porque todas as substâncias
revelam sua falta de fundo
ao toque do olhar
que revela
o fundo do meu engano.
Amo meu engano
porque ele me impede
do amor ao dessentimento da certeza
que me impele
a uma devoção vertical
que me impede
de me derramar no horizonte
onde me perco de tanto amor enviesado.
Amo, desconfiado,
a paisagem árida da pobreza
que não se dá ao amor.
Amo, mesmo entediado
a beleza óbvia
que se desconfia
enquanto utopia do avesso.
Amo sobretudo o falso conceito de um nada
que se esgota em sua definição.
Amo a invenção precária
que contorna
toda criação turva
que ilumina
a sombra esquiva de amar.