Há vários modos de fabricar eternidade.
Uma múmia eterniza a hora de sua morte
legando aos vivos o registro embalsamado de seu corpo.
Um Botox ou silicone eternizam o desejo de beleza
registrando a morte da perecibilidade da carne.
Uma foto retém o voo de um pássaro,
engaiolando seu movimento no registro
de imagem idealizada.
Uma memória eterniza o voo do pássaro
recriando seu voo para além
do registro engaiolado do ato.
Uma ruína se eterniza pela arquitetura
que jamais desmorona
no registro da história que a ergue.
O sorriso de quem se ama se eterniza
como arquitetura que jamais se desmorona
no registro da história que o ergue.
Um fogo se alimenta pela brasa que o alimenta
na fogueira que alimenta sua chama
que revive no calor da cinza da madeira que consumiu.
Um amor ou ódio ou intenção afetiva ou intenção ideal
se recriam no tempo
como arquitetura reconstruída
de uma ação permanente
que erguem um palácio que jamais desmorona
na ação afetiva que o reerguem
eternamente
pela chama alimentada
da memória do agora,
que voa, com o esforço exaustivo
de suas asas
para além do registro engaiolado
da morte do momento
jamais mumificado.