Passo pela rua em que nasci.
Rua mudada cuja mudança
muda meu passado reinventado
Nada me lembro que não recrie
ou confunda
na memória em que me invento.
A arquitetura moderna de rua hoje
habita a ruína da lembrança
de meu futuro transfigurado.
Rua deserta na madrugada
onde agora nada passa
em companhia da memória
de muitos que passaram e passarão
para desassossego da impermanência
de um presente sossegado.
Antes da rua deserta em que nasci
a sombra lembrada da imortalidade
para antes de mim:
nascer não é passado:
nascer é para sempre estar
ao presente atado, todo o tempo
furtivamente atormentado.