O céu não me maravilha
com seu azul resultado de luzes
que se comprimem numa única cor tediosa.
Me entediam as estrelas noturnas
já mortas pela demora da velocidade da luz
que as inventa num presente sempre passado.
Tampouco me alenta mais a brisa da madrugada
que o ar condicionado
que assopra inspiração
do leito lírico do meu quarto
centro dos lugares frios onde não repouso.
A rosa resplandescente que implora por adoração
entedia minha contemplação
que só se encanta na brevidade
do apelo desesperado de sua beleza-
que murcha na visão de uma vaidade estática.
Me encantam outros enganos desnaturados da natureza:
a falsa promessa de um afeto eterno que não murcha
no ideal que jamais se consuma
nascido póstumo em seu engano;
o céu pintado pela miopia do artista
que aumenta as estrelas mortas
ressuscitando seu engodo para um apelo de vida
que jorra nas tintas da criação de um equívoco mais lírico;
a febre que arranca o conforto do clima que apascenta
a luz estéril de uma saúde que calcula os instantes do meu tédio;
o espinho da beleza óbvia e tediosa da rosa que arranca do meu sangue
um vermelho mais vivo, lânguido e permanente
que escorre da minha precariedade em eterno botão.
Não colho da natureza
qualquer espanto que desnature
minha invenção em prosa filistina.
Não agradeço pela vida
a não ser pelo esboço
de algo mais que ela não ensina.