Não haverá
olhos suficientes
para enxergar o gesto heroico
que ainda não tiveste
e que preparas na solidão onisciente
do teu quarto:
só o esquecimento te acompanha
na memória de cada gesto não registrado
na presença de um presente que nunca passa.
Ainda porém alimentas teu cão ou teu filho
que te olham na cotidiana epifania da gratidão.
Ainda porém aleitas a lembrança
da mãe ou do amigo perdidos
no eterno futuro do passado de um gesto
que jamais se verá –
e todos estes sempre serão olhos presentes
que se alimentam mesmo de tudo que ainda não destes.
Não há olhos ausentes
que não deixam de se ver
em cada gesto
nunca ainda não consumado.