Cadeia alimentar

A vida se alimenta de vida:
um leão estraçalha um cervo sem crueldade
a fim de sobreviver.
A dor torturante do cervo estraçalhado
não se espelha exatamente no desaparecimento
dos duzentos quilos diários de vegetação ingeridos pelo elefante,
este vegano desmatador da natureza
que serve sem causa aparente aos olhos
que a amam ou à boca que a devora.
Para se alimentar faustamente do poder que dividem,
macacos bonobos negociam sexo e violência.
Mais prática, a viúva negra devora seu macho após o coito.
Só o humano é capaz de comer sua fome
a fim de poupar seu semelhante da desgraça da dor
ou desaparecimento.
Só o humano é capaz de inventar uma fome
a fim de se alimentar da vaidade
sobre a dor derrota ou desaparecimento
de um semelhante.
Só o humano é capaz de criar
semelhanças ou diferenças
que o impelem
contra a natureza de sua fome.
Só o humano
é capaz de se alimentar da dor
da ausência de um alimento tátil
para comer transcendências.
A vida se alimenta de vida.
Só o humano canibaliza
sua insaciável interrogação
devorando sua natureza recriada.

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