Dinheiros

Perdi uma amizade quase verdadeira
por dois dinheiros desenganados.
Ganhei o que quase não valia a pena
por um esforço atado
a um princípio burlado.
Criei a verdade do que quis
por duas éticas enviesadas.
Noves fora, lucrei
uma solidão acompanhada
de fantasmas vivos que satisfazem
a aparência da ausência de paredes.
Vou comprando a dívida que me resta:
o tempo trespassado pelo saldo
de prazerosas pretensas virtudes sabidamente alimentadas.

Pequenas epifanias de troco:
o olhar agradecido do cão
pelo puro aspecto de uma errática
visão de seu dono que se doa
ao valor imerecido;
a memória deleitavelmente enganosa
da mulher avalizada pelos juros ideais
do futuro que se alimenta de um interminável
espaço adiante;
a expectativa nunca falida das pazes
através do pedido de perdão
ao amigo sabidamente estelionatário;
o filho, a amante, o amigo
– trabalho vitalício de remuneração inexata :
a reprodução de mais pessoas
como papel moeda de valor abstrato sem substância
criado virtualmente como mercado de troca
do afeto que se oferece como crédito
de um valor que cria sua inarredável necessidade.

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