lição de desaprendizagem

Desaprender o desejo das arestas
do que não é cerne;
reaprender a sentir o cerne
pelas arestas que não são vistas
pelo que limita o desejo;
redescobrir algum prazer envisesado
nalguma dor esquecida
e subestimada;
redescobrir algo além do prazer
do que está na tediosa ausência de toda dor;
reaprender a andar para dentro
do abismo que o ampara
segurando nas mãos do tropeço;
desaprender o claro
que cega o escuro
que tateia a sombra
do que jamais se consuma ser
e reaprender- sem fim-
o que se cria;
desaprender a imagem do espelho
que não se toca;
reaprender o reflexo partido
no olhar turvo de quem
cegamente lhe estende a mão;
reaprender o reflexo partido
de quem claramente
lhe nega a mão;
desaprender mesmo
o que não foi feito
pelo erro da intenção
e desaprender a ação do passado
pelo cheiro futuro do esboço
de uma visão;
desaprender o presente
pelo agora eternizado
de uma singela doação.

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