Apesar da inveja que te tenho
te desejo o bem.
Talvez um bem didático
destes que ensinem valores
superiores ao sucesso fácil
-neste em que não me encaixo
-apesar do discurso em que não me acho-
e que te ensine a perder com garbo-
esta perda ganha que sempre me faço.
Apesar do amor em que me oferto
e que me negas
te desejo o bem –
talvez um bem nefasto
destes que te ensinem a amar
pela negação da coisa amada-
tão distinto desta doação que digo-
desta a que no vazio
sempre me abraço.
Apesar da mágoa que me embala
sempre me desfaço
no desenho do discurso
que esboça a mancha turva
do meu traço.
Apesar de mim mesmo
sempre traço no outro
a virtude do perdão
ao meu complacente descompasso.