Não sei bem quando começou a vida.
Quando inseminado ou gerado
ou sucessivamente transformado
pela primeira carícia
ou primeiro abandono
ou primeira morte que me ressuscita.
Não sei bem quando interrompida a morte
de antes de eu nascido –
quando querido
ou gestado ao acaso
de um prazer efêmero
que se transforma em existência-
longa, se considerar dois segundos de orgasmo
-curta, a se considerar a eternidade
-exata, a se considerar o desejo
de uma amorosa vontade de eternidade
-definitiva, a se considerar a marca
de um simples segundo ou tantos anos
da respiração em mim sempre presente
da mãe que me aleitava
ou sufocava em sua ponderada negativa.
Não sei bem quando vivi ou quanto vivi
imerso em dúvida do útero
que me envolvia
ou da vida que de mim se escondia
ou do fim que me encobria.
Sei bem – que quando vivo-
sempre algo me matava
um esboço de carícia me embalava
alguém de mim falava
alguém por mim falava
em todos os lugares
onde eu não estava.
E me calava.
Lembro-me bem
quando uma mão generosa me retirou
do conforto onde nunca estive
mas não sei bem se para a vida
ou se para retornar ao nada
onde ninguém gerado
jamais vive.