Cada passo que não dou pavimenta o descaminho
que pisa em todas as possibilidades abertas.
Cada palavra não escrita
cada ação não encenada desenham o infinito
que suicida o texto da peça ínfima que limita
uma vida que se abre no sonho vivo da minha inércia .
Nada farei para encerrar
o espetáculo da minha lânguida ubiquidade
até que alguém repouse os olhos
em minha inação desesperada de esperança .
Nenhum sentido até que me apontem
o horizonte da encruzilhada .
Antes serei o maestro
da ousadia da minha covardia .
Por medo do vício
me torno a virtude da ausência habitada em mim mesmo .
Até que me toque- e me tocam sempre , tanto mais à distância –
Até que apontem o lugar nenhum de minha ausência
Até que me movam pela acusação
da obrigação de permanecer
à falta de opção mais clara
pela falta de qualquer negação
de estar em todos os lugares
todos os tempos
todos os esquecimentos.
Até que eu me desminta
por esta ode à impossibilidade ativa de minha inação
quando então aprenderei
o valor de um gesto interpretado
que encena um sentido
acreditado
criado
sempre vivo
tatuado na memória
de tudo que
jamais desacontece .