Chega um tempo
em que tudo se repete:
os gestos nos trabalhos do dia ,
o trabalho na construção dos afetos ,
das amizades , dos amores ,
o trabalho
da construção e lapidação
das paixões e ideais .
Se repete um rosto renovado
de um mesmo sentimento construído
em um outro rosto ,
se repete o abraço que enlaça a velha vontade
de um outro corpo :
talvez o mesmo corpo reinaugurado , talvez
um outro à mesma vontade enlaçado , talvez nenhum corpo , nenhum abraço
à mesma vontade despedaçado .
Repete – se o rompimento ,
o desgosto ,
que por cotidianamente repetido
torna – se
sem nenhum amargo gosto .
Repete-se o gosto
de um pretenso
gosto de algo já provado .
Repete – se
a vontade de se matar
que por tão revivida
torna a morte
tão repetitiva
como a vida .
Não :
a morte não nos cura
Da vida que é repetição .
Repete – se o amor reinventado
na face do filho
que cresce
e torna – se
um mesmo outro
à lembrança sempre atado
a todo o tempo sempre amado
ao amor sempre reinventado .
Repete-se a memória
do filho
que nunca tive
à esperança sempre
amarrado .
Tarde , percebemos
que desde muito cedo fomos
e somos felizes
na espera pela felicidade .
Repetimos a espera
tentando não saber
que a esperança
não seja uma quimera.